O desejo de  felicidade imediata
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Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

É na juventude que se pode constatar de modo mais claro a extrema preocupação com a realização imediata, com a felicidade e o prazer a qualquer custo. Não tanto como uma busca e uma construção, mas como conquista do momento, que vai desde a auto-superação em aventuras em situações extremas até a relação sem compromisso nem vínculo afetivo. O tempo da juventude é comumente apresentado como tempo de projetos, de preparação para a vida futura, para as realizações da vida adulta.
O homem e a mulher desse tempo, entretanto, parecem experimentar o fenômeno que se pode chamar de presentismo. Trata-se da experiência que limita as buscas e realizações humanas ao imediato, ao efêmero, pouco importando projetos com pretensão de alcançar objetivos em longo prazo. Não se sentem mais impelidos a organizarem-se e a proporem novos rumos para a história presente.
O imediatismo e a correria esterilizam as relações do ser humano com o mundo. A vida é regulamentada a partir de critérios que desumanizam e artificializam o ser. Para muitos o tempo está privado de significado. Há quem faça férias para melhor trabalhar. Há quem pense que o domingo é a pausa necessária para enfrentar mais uma semana. Perde-se o sentido de saborear o tempo livre, de exercício para um futuro quando não haverá mais segunda-feira e nem trabalho, apenas o convívio feliz da criatura com o Criador.
O desejo de felicidade é marca fundamental da vida humana. Essa tendência, contudo, não garante, em si, a felicidade. Muitas vezes o sentimento de felicidade é resultado de uma surpresa, de uma ruptura com a experiência cotidiana que superar todo desejo e todas as aspirações. A felicidade, portanto, não se comporta apenas de acordo com o desejado e o esperado. Na sua indisponibilidade, a felicidade supera o nosso desejo de felicidade.
Entretanto, é certo afirmar que aquilo que o ser humano experimenta como felicidade é um dado momentâneo, provisório e temporalmente limitado. A felicidade pode ser apenas aproveitada de forma fragmentada e passageira. De outra forma, não é possível. A supervalorização da felicidade instantânea é um desenvolvimento específico da idade moderna. É fruto da consciência de que a felicidade apenas pode ser experimentada de forma temporalmente limitada. Constata-se que a vida comporta experiências de felicidade, mas elas não são duradouras.
A felicidade instantânea apresenta-se como uma espécie bem determinada de experiência de sentido, da qual emerge uma profunda interpretação da própria vida e da realidade. A felicidade instantânea apoia-se sobre a autotranscedência da vida que se verifica na consciência da experiência de sentido que supera tudo o que o ser humano possa fazer de sensato. Trata-se de uma experiência de transcendência.
O desejo da felicidade imediata pode ser uma excelente forma de acolher a vida como um dom a ser saboerado na provisoriedade. E justamente nessa caducidade de tudo, encontrar o eterno. Entre as coisas que passam, ser capaz de abraçar o que não passa.
Os jovens são mestres em ensiar a aproveitar o presente, a perceber a fruição da vida como um dom. O ideal seria integrar a experiência das antigas gerações com as intuições das novas. Especialmente os que creem deveriam ser pessoas marcadas pela jovialidade, pelo bom humor e a alegria de quem tem motivos para festejar a vida hoje, na espera de um futuro pleno e feliz.