Na Santa Casa de Itu (1)
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Meu dileto ouvinte! Já aludimos, ligeiramente, em crônicas anteriores à expansão da obra de Madre Teodora, trabalho a que daremos duplo valor, se levarmos em conta ter sido ele realizado numa época em que as distâncias, as dificuldades de viagens, os sacrifícios de tempo e dinheiro, a incompreensão religiosa, as perseguições dos inimigos de Cristo, os empecilhos de toda ordem, a necessidade de adaptação ao clima e aos costumes brasileiros, pareciam prover fatal malogro à arrojada iniciativa.
Madre Teodora, no entanto, fecha os olhos aos obstáculos que a rodeiam, e pondo toda sua esperança na única força, que não falha – a Providência Divina, continua timoneira segura a guiar pelos encalpelados mares da vida o barco um dia lançado em Chambéry.
Dá-se de corpo e alma ao querido Patrocínio de seus sonhos. Bebe até o fim a taça da amargura, quando as investidas dos maus ameaçam destruir sua obra. Goza e sente bater-lhe em festas o coração quando o triunfo coroa seus martírios, às vezes só de Deus conhecidos.
À frente dos destinos da missão nascente, vê crescer em sua alma o anseio de espalhar pela sua terra de adoção o reinado de Cristo, sente a necessidade de arrancar a juventude ao domínio dos incrédulos, deseja levar aos doentes uma palavra de conforto e fé, curar-lhes as chagas do corpo e da alma, repartir os excessos de sua caridade com os pobres, os pequeninos, os sofredores, os deserdados de afeto humano.
Ainda dez anos não são passados de sua chegada ao Brasil, e eis que lhe chega um pedido dos mais gratos ao seu sentimento de profundo amor ao próximo. Os mesários da Santa Casa local, conhecedores do que ela fazia das visitas aos doentes pobres um de seus passeios favoritos, encontram nesse proceder a solução para os seus problemas de administração hospitalar: recorrem, pois à Congregação de São José, oferecendo-lhe a direção da Santa Casa de Misericórdia.
Grande foi a alegria de Madre Teodora em poder atender tal solicitação. O local que lhes servira de primeiro abrigo, ao desembarcarem em campos ituanos, seria agora a casa onde curariam o corpo para salvar a alma, onde assistiriam os moribundos e lhes abririam as portas do céu pela administração dos últimos sacramentos, onde reconduziriam a Deus os transviados, converteriam e devolveriam à sociedade pessoas, não só curadas no físico, mas reabilitadas e resolvidas a viver cristãmente.

01 de junho de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu