Papa Francisco: “Natal sem os pobres não é o Natal de Jesus”
Na homilia da Missa solene da Noite de Natal de sábado (24/12), na Basílica de São Pedro, com milhares de fiéis e peregrinos presentes oriundos de várias partes do mundo, o Papa Francisco convidou-nos a redescobrir o sentido do Natal. Como voltar a encontrar o seu significado? E sobretudo, onde ir procurá-lo? “O Evangelho do nascimento de Jesus parece escrito precisamente para isto: tomar-nos pela mão e levar-nos lá onde Deus quer”, ressaltou o Pontífice.
A manjedoura! Para voltar a encontrar o sentido do Natal, é preciso fixar nela o olhar. E por que é tão importante a manjedoura? Porque é o sinal, não casual, com que Cristo entra em cena no mundo. É o manifesto com que Se apresenta, o modo como Deus nasce na história para fazer renascer a história. O quê nos quer dizer então a manjedoura? Pelo menos três coisas: proximidade, pobreza e concretismo.
Francisco desenvolveu sua reflexão na homilia a partir daí.
Proximidade
A manjedoura serve para deixar o alimento mais próximo da boca e assim consumi-lo mais depressa. Deste modo pode simbolizar um aspecto da humanidade: a voracidade em consumir, ressaltou o Papa.
E as principais vítimas da voracidade humana são sempre os frágeis, os vulneráveis. Também neste Natal, uma humanidade insaciável de dinheiro, poder e prazer não dá lugar – como sucedeu com Jesus – aos pequenos, a tantos nascituros, pobres, abandonados. Penso sobretudo nas crianças devoradas por guerras, pobreza e injustiça. Mas é precisamente lá que vem Jesus, menino na manjedoura do descarte e da rejeição.
“Na manjedoura incômoda da rejeição, acomoda-Se Deus: vem para ali, porque nela está o problema da humanidade, a indiferença gerada pela pressa devoradora de possuir e consumir. Cristo nasce lá e, naquela manjedoura, descobrimo-Lo próximo”, acrescentou o Santo Padre.
Pobreza
Além da proximidade, a manjedoura de Belém fala-nos de pobreza. Na realidade, ao redor de uma manjedoura não há grande coisa: capim, qualquer animal e pouco mais. As pessoas hospedavam-se no quentinho dos albergues, não no estábulo frio de uma pensão; mas aqui nasceu Jesus, e a manjedoura lembra-nos que nada mais havia em redor senão quem Lhe queria bem: Maria, José e alguns pastores… todos, pobres, irmanados pelo afeto e o maravilhamento, não por riquezas e grandes possibilidades. E assim, a pobre manjedoura faz emergir as verdadeiras riquezas da vida: não o dinheiro nem o poder, mas as relações e as pessoas.
“E a primeira pessoa, a primeira riqueza é Jesus. Mas nós… queremos mesmo estar ao seu lado? Aproximamo-nos d’Ele, amamos a sua pobreza? Ou preferimos apegar-nos comodamente aos nossos interesses? Sobretudo visitamo-Lo onde Se encontra, isto é, nas pobres manjedouras do nosso mundo? É lá que Ele está presente. E nós somos chamados a ser uma Igreja que adora Jesus pobre, e serve Jesus nos pobres.”
“Certamente não é fácil deixar o confortável calor do mundanismo para abraçar a nua beleza da gruta de Belém. Mas lembremo-nos de que, sem os pobres, verdadeiramente não é Natal. Sem eles, festeja-se o Natal, mas não o de Jesus… Irmãos, irmãs, no Natal Deus é pobre: renasça a caridade!”, exortou o Papa.
Concretismo
Desenvolvendo o último ponto de sua reflexão, o Papa Francisco ressaltou ainda que a manjedoura nos fala de concretismo.
Jesus, que nasce pobre, viverá pobre e morrerá pobre, não fez muitos discursos sobre a pobreza, mas viveu-a, em toda a sua profundidade, por nós. Da manjedoura à cruz, o seu amor por nós foi palpável, concreto: do nascimento à morte, o filho do carpinteiro abraçou a aspereza da madeira, a aspereza da nossa existência. Não nos amou com palavras, não nos amou por divertimento!
Por fim, o Santo Padre fez uma premente exortação: “Não deixemos passar este Natal sem fazer algo de bom. Uma vez que é a festa d’Ele, o seu aniversário, ofereçamos-Lhe prendas de que Ele gosta! No Natal, Deus é concreto: em seu nome, façamos renascer um pouco de esperança em quem a perdeu!”
Francisco concluiu a homilia da Missa solene da Noite de Natal em forma de oração:
Jesus, contemplamo-Vos recostado na manjedoura. Vemo-Vos tão próximo, perto de nós para sempre… Obrigado, Senhor! Vemo-Vos pobre, ensinando-nos que a verdadeira riqueza não está nas coisas, mas nas pessoas, sobretudo nos pobres: desculpai, Senhor, se não Vos reconhecemos e servimos nelas. Vemo-Vos concreto, porque concreto é o vosso amor por nós: ajudai-nos a dar carne e vida à nossa fé. Amém.
(Fonte: Vatican News)