Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
Leituras iniciais da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
Sugerimos que antes de lerem estes comentários, façam as leituras na Bíblia
1ª Leitura (Apocalipse 11,19a;12,1-6a.10ab)
Uma certa devoção mariana, junto com inegáveis méritos, limitou-se a apresentar-nos uma Nossa Senhora muito distante de nós e do nosso mundo. Maria não é um ser sobre humano, mas sim uma irmã que vive as alegrias e dores, as angústias e esperanças de todos os irmãos da comunidade. É esta irmã que hoje a liturgia nos convida a contemplar.
A cena descrita é grandiosa. Quem são os três personagens: a mulher, o dragão e o recém-nascido? O “menino” é evidentemente Cristo “que é destinado a governar as nações”. O dragão vermelho simboliza o mal, as forças contrárias à salvação, o inimigo de Deus e do seu plano de amor. Essas forças destrutivas atiram-se contra o “Messias” desde o dia do seu nascimento que – preste atenção – não é o acontecido em Belém, mas aquele do dia da Páscoa, em que Jesus de Nazaré, saindo do sepulcro, revelou-se como Cristo, como Messias.
A mulher parece ser Maria. É esta a interpretação mais simples e imediata e, realmente, muitas imagens reproduzem Nossa Senhora radiante como o sol, com a lua sob os pés e com uma coroa com doze estrelas sobre a cabeça. Mas não é isso. A “mulher” representa, antes de tudo, a comunidade de Israel e é a esse povo (composto por doze tribos) que se referem as doze estrelas.
Se “a mulher” não é Maria, como a liturgia nos propõe este trecho do Apocalipse na festa da Assunção? A razão está no fato de que todos os textos – tanto do Antigo como do Novo Testamento – que falam do povo fiel a Deus, podem ser aplicados a Maria.
2ª Leitura (1Coríntios 15,20-27a)
No Novo Testamento fala-se constantemente da morte e do morrer e não poderia ser de outra maneira, visto que a vitória de Cristo sobre a morte constitui a verdade fundamental da mensagem cristã.
Nós somos pessoas de fé e, no entanto, nos perguntamos: se Cristo venceu a morte, por que continuamos e morrer? A morte não nos alcança somente no termo de nossos dias sobre a terra, é uma experiência que nos acompanha em todo momento. A doença, dor, desilusão, solidão, o abandono, a insuficiência física são situações que impedem de viver em plenitude, são formas de morte.
A mulher traída, a mãe que possui um filho dependente de drogas, a garota seduzida e abandonada não pode estar dizendo: “Tenho a morte no coração”? Amar a Deus significa aceitar com serenidade essa realidade humana.
Cristo não eliminou a morte biológica: o organismo do homem, como o de cada ser vivo, acaba por consumar-se. Cristo venceu a morte, não porque encontrou uma forma miraculosa de não nos deixar sair deste mundo e, quando estamos para morrer nos faz retroceder. Isto não seria uma vitória sobre a morte, mas uma forma de manter-nos no mundo aonde se é constrangido a conviver com os germes da morte.