A vocação que  constrói a família
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Dom José Gislon
Bispo de Caxias do Sul (RS)

No Domingo passado, o segundo de agosto, comemoramos o dia dos pais e iniciamos a Semana Nacional da família. Lembrar a vocação ao Matrimônio é tomar consciência da importância fundamental da família na sociedade, mesmo com todas as mudanças religiosas, culturais e sociais que marcaram a humanidade nas últimas décadas.
Para este ano, a Semana Nacional da Família, que é celebrada de 11 a 17 de agosto, tem como tema: “Família e Amizade”, e o lema “Amizade, uma forma de vida com sabor do Evangelho”. O dom da vocação à vida matrimonial contempla a dimensão do ser pai, do ser mãe, e a construção de uma família em nome do amor. A exortação apostólica pós-sinodal Amoris Laetitia, do Papa Francisco, reflete sobre o amor no matrimônio e na família. Não sobre a palavra “amor”, que é seguidamente mencionada de forma desfigurada, porque falta o sentido da presença de Deus, da partilha e do cuidado da vida da pessoa amada.
Talvez deveríamos lembrar das palavras de Santo Tomás de Aquino, quando falamos do amor na vocação ao Matrimônio. Ele nos fala que, depois do amor que nos une a Deus, o amor conjugal é a “amizade maior”. É uma união que tem todas as características de uma boa amizade: busca o bem do outro, reciprocidade, intimidade, ternura e estabilidade. Mas também é capaz de superar os desafios, não tem medo de lutar, renascer, reinventar-se e recomeçar sempre de novo, para estar ao lado da pessoa amada. Poucas alegrias humanas são tão profundas e festivas como quando duas pessoas que se amam, conquistam conjuntamente algo que lhes custou um grande esforço compartilhado. Percorrer um caminho juntos, mesmo se difícil, pode ser uma oportunidade, para se apreciar melhor o que se tem, e quem está ao nosso lado. Com os olhos do amor e do coração, podemos ver valores e qualidades que nunca tínhamos percebido na pessoa que está ao nosso lado, caminhando conosco nos momentos alegres e difíceis da nossa vida.
Por isso, é importante que os jovens façam o discernimento sobre a opção e a vocação à vida matrimonial. Formar uma família também significa correr riscos, mas quem ama de verdade aceita correr riscos em nome do amor. Além disso, a família, para manter-se unida, precisa também exercitar no seu dia a dia a escuta, o perdão e a reconciliação. Mas para que isso aconteça, é necessário a presença do amor no coração das pessoas. Sem ele, até mesmo o perdão e a reconciliação, depois das pequenas falhas cotidianas, podem ficar cada vez mais distantes, esvaziando assim o sentido de pertença de um ao outro, e o sentido de pertença à uma família, da qual podemos dizer com orgulho: esta é a minha família.
O amor não exige que o outro seja perfeito para aceitá-lo, mas possui sempre o sentido de profunda compaixão, que leva a aceitar o outro como parte da minha vida e deste mundo, mesmo quando age de modo diferente daquilo que eu desejaria. Na vida familiar não pode reinar a lógica do domínio de uns sobre os outros, nem a competição para ver quem é mais poderoso, porque esta lógica acaba com o amor e destrói a serenidade na família.
Dentre as várias mudanças culturais e sociais que marcaram a figura do pai na família, creio que a mais marcante foi a que rompeu a barreira de os pais terem o direito de expressar amor e ternura em relação aos filhos. Ser um pai amoroso não é sinal de fraqueza ou ausência de autoridade, mas é expressão do amor divino, daquele amor revelado por Deus Pai ao seu filho Jesus, e manifestado em várias passagens da Bíblia, a começar pelo batismo de Jesus: “Este é o meu Filho muito amado no qual pus todo o meu agrado” (Mt 3,17).
Estimados pais, às vezes o fardo da responsabilidade familiar pode ser pesado, mas se a família é importante para vocês, então irão encontrar as forças e o tempo para cuidar dela com amor e protegê-la, como parte da vossa vocação e missão.