Contra a lógica do egoísmo,  tornemo-nos cristãos “eucarísticos”
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Neste domingo (09/06) na Itália e noutros países, celebra-se a solenidade de Corpus Christi. O Evangelho da liturgia narra a Última Ceia (Mc 14, 12-26), durante a qual o Senhor realiza um gesto de entrega: de fato, no pão partido e no cálice oferecido aos discípulos, é Ele mesmo que se entrega por toda a humanidade e se oferece pela vida do mundo.
Naquele gesto de Jesus que parte o pão, há um aspecto importante que o Evangelho sublinha com as palavras “deu-o” (v. 22). Fixemos no nosso coração estas palavras: deu-o. A Eucaristia, de facto, recorda antes de mais a dimensão do dom. Jesus toma o pão não para o consumir sozinho, mas para o partir e o dar aos discípulos, revelando assim a sua identidade e a sua missão. Ele não reteve a vida para si mesmo, mas deu-a a nós; não considerou o seu ser como Deus um tesouro cioso, mas despojou-se da sua glória para partilhar a nossa humanidade e deixar-nos entrar na vida eterna (cf. Fl 2, 1-11). De toda a sua vida, Jesus fez um dom. Recordemos isto: de toda a sua vida, Jesus fez um dom.
Compreendamos, pois, que celebrar a Eucaristia e comer este Pão, como fazemos especialmente aos domingos, não é um ato de culto desligado da vida ou um mero momento de consolação pessoal; devemos sempre recordar que Jesus tomou o pão, partiu-o e deu-o e, por isso, a comunhão com Ele torna-nos capazes de nos fazermos também nós pão partido para os outros, capazes de partilhar o que somos e o que temos. São Leão Magno dizia: «A nossa participação no corpo e no sangue de Cristo não tende a outra coisa senão a tornar-nos aquilo que comemos» (Sermão XII sobre a Paixão, 7).
É a isto, irmãos e irmãs, que somos chamados: a tornarmo-nos aquilo que comemos, a tornarmo-nos “eucarísticos”, isto é, pessoas que já não vivem para si mesmas (cf. Rm 14, 7), na lógica da posse e do consumo, mas que sabem fazer da sua vida um dom para os outros. Assim, graças à Eucaristia, tornamo-nos profetas e construtores de um mundo novo: quando superamos o egoísmo e nos abrimos ao amor, quando cultivamos laços de fraternidade, quando participamos nos sofrimentos dos irmãos e partilhamos o pão e os recursos com os necessitados, quando colocamos os nossos talentos à disposição de todos, então estamos partindo o pão da nossa vida como Jesus.
Irmãos e irmãs, perguntemo-nos então: guardo a minha vida só para mim ou dou-a como fez Jesus? Empenho-me pelos outros ou fecho-me no meu pequeno eu? E, nas situações quotidianas, sei partilhar ou procuro sempre o meu interesse?
A Virgem Maria, que acolheu Jesus, Pão descido do Céu, e se doou inteiramente com Ele, nos ajude também a tornarmo-nos um dom de amor, unidos a Jesus-Eucaristia.