No Seminário da Glória, em São Paulo (3)
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E como não aprovar a aparente transgressão à autoridade? Não se tratava da maior glória de Deus, lema e brasão da Congregação Josefina?

A concretização de tal beneplácito logo traduz-se na chegada de nova leva de bandeirantes. Cinco virgens de negros véus desembarcam em solo pátrio, para aqui fincar mais um marco de benemerência. São elas Madre Ana Felicidade Del Carretto, de nobre linhagem, filha do Conde Del Carretto, Anna Perrin, Irmã Luiza Agueda Trosset, Irmã Maria Serápia Chavier e Irmã Domitila Mermet.

Ansiosas de entrar em função, não ignoram o ambiente de preconceitos que vão encontrar. Entre gritos e alaridos, numa recepção desencorajante, têm as intrépidas missionárias seu primeiro contato com essas almas rústicas, sem conhecimento religioso. Seu apoio, porém, está n’Aquele ao qual consagraram sua vida em flor, e por isso não temem a luta que se lhes apresenta. As internadas consideram o orfanato como um cárcere. Instigadas por elementos de dentro, que se viam espoliados da fonte de renda de desviar dinheiro destinado ao sustento das meninas, lançam mão de todas as maldades para embaraçar a ação das Irmãs. Chegam até mesmo a envenenar os alimentos destinados às mestras, crendo que com essas revoltas e represálias, as fariam desanimar. Longe de desesperar-se, as Irmãs sentem profunda compaixão de suas educandas, ao ver o limite de degradação e respondem aos seus ataques com maior bondade e maior prudência. Misturando a firmeza com a misericórdia, iluminando aquelas pobres inteligências com os ensinamentos cristãos, colocando a casa sob os desvelos do Coração de Jesus, entregam-se completamente à regeneração das pobres órfãs. Durante semanas os sofrimentos das religiosas, suas pregações e seus esforços parecem ineficazes. O exemplo de sua admirável mansidão, a delicadeza com que tratam aquelas verdadeiras feras, vão aos poucos abrindo e polindo as surpresas daqueles corações, mais infelizes que culpados…

Caem as primeiras barreiras que separam as mestras das alunas. A casa vai se transformando. Os primeiros lampejos de reconhecimento fazem-se notar nos olhos das meninas. Irmãs Domitila transmite-lhes o gosto pelos trabalhos manuais e as constantes encomendas de bordados feitos pelas famílias ricas permitem equilibrar as finanças, proporcionando melhor trato às internadas.

Tudo se recupera lenta mas encorajadamente. O ódio vai dando lugar ao amor, e as intrépidas missionárias, dentro de algum tempo, sentem o triunfo do bem sobre o mal…

É que na capela do Patrocínio, braços abertos em oração, qual novo Moisés, um vulto esguio não se deixa abater pelo cansaço, e um coração de mãe pulsa por aquelas que lhe foram mandadas da França. Madre Teodora consagra longas vigílias, suplicando ao Senhor manso e humilde de coração, torne dóceis e compreensíveis as educandas do Seminário, seu primeiro florão de glória na rica metrópole dos rubros cafeeiros…

15 de junho de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu