Homenagem à Congregação Mariana do Carmo em seu Centenário – II
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Sociedade, trabalho, família. Três aspectos básicos que bem demonstram a delicada situação em que vivemos.
Mas, um quarto aspecto revela-se o mais importante de todos e é, por assim dizer, a origem de todos os outros: o indivíduo, a crise individual da fé.

Com efeito, estamos diante de uma ausência de convicção por Cristo. Tem-se a convicção de que se deve estudar para ser alguém na vida. Tem-se a convicção de que se deve cuidar da saúde, evitar doenças. Tem-se a convicção de que se deve preservar o meio ambiente como condição de sobrevivência futura no planeta. Tem-se a convicção de que se deve andar na moda e tantas outras, sem falar das convicções motivadas pelas paixões esportivas. Mas não se tem convicção por Cristo. Não se tem a convicção da necessidade d’Ele em sua vida. Tudo é importante e tido como bom, fundamental para a vida em sociedade. Cristo, não!

Mesmo entre os que se dizem católicos, predominantemente os jovens, há quem creia, que paute sua vida em certos princípios que lhe são oferecidos pela religião; por vezes, que até frequentem uma ou outra prática religiosa, senão a missa dominical. Mas, essas mesmas pessoas, terão a verdadeira convicção por Cristo? Uma convicção capaz de fazê-las entender intimamente que existem neste mundo para amar e servir a Deus e, como tais, devem viver de tal forma que todas as suas ações sejam com base nessa premissa? A convicção por Cristo pressupõe a total adesão a Ele, o viver “por Ele, com Ele e n’Ele”.

Como resultado dessa ausência de convicção vemos, mesmo entre os católicos, mesmo entre nossos filhos e netos, a indiferença em relação à participação no culto religioso, jovens dispensando o sacramento do Matrimônio para se unirem, a permissividade na conduta e no namoro dos filhos, quando não chegam ao extremo de adiar aos filhos a graça batismal, sob o argumento de que eles mesmos escolham, quando maiores, qual caminho desejam seguir em termos de fé. Mesmo que para isso tenham que condená-los a viver um paganismo com prazo indeterminado. Muitas vezes, os limites de uma vida coerente para muitos católicos são as questões morais, quando a tolerância invariavelmente fala mais alto. Seriam atitudes de quem tem a convicção por Cristo? Por que muitas vezes não conseguimos transmitir aos nossos filhos a convicção por Cristo? Seria porque também em nós essa convicção não tem a solidez que deveria ter, a ponto de termos a dificuldade de testemunhar nossa fé mesmo àqueles que nos são mais próximos?

O grande papa das Congregações Marianas, Pio XII, em meados do século passado, já alertava quanto a um ateísmo prático. As pessoas até crêem em Deus, mas vivem como se ele não existisse. Verdade atualíssima! Crêem em Deus, porém essa crença existirá até o momento em que Deus não interfira em suas vidas. A partir daí, as decisões são pessoais, conforme as próprias conveniências.

O assunto é tão sério para o futuro da Igreja que levou o Papa Bento XVI a proclamar, recentemente, o “Ano da Fé”. Muito mais que celebrar os 50 anos da abertura do Concílio Vaticano II e os 20 anos da publicação do Catecismo da Igreja Católica, o Santo Padre demonstra mais uma vez a sua preocupação em reavivar no mundo uma profunda convicção em Cristo.

Em seu discurso de abertura, em 11 de outubro passado, assim se expressou: “Nas últimas décadas, observamos o avanço de uma ‘desertificação’ espiritual, mas, no entanto, é precisamente a partir da experiência deste vazio que podemos redescobrir a alegria de crer, a sua importância vital para nós homens e mulheres. E no deserto existe, sobretudo, necessidade de pessoas de fé que, com suas próprias vidas, indiquem o caminho para a Terra Prometida, mantendo assim viva a esperança. A fé vivida abre o coração à Graça de Deus, que liberta do pessimismo”. (continua)

(Segunda parte do discurso proferido na igreja do Carmo de Itu em 24 de novembro de 2012, festa de Cristo Rei, nas comemorações dos 90 anos da Congregação Mariana)