É hora da Economia de Francisco e Clara
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Dom Arnaldo Carvalheiro Neto
Bispo Diocesano de Jundiaí

Trafegamos em discussões econômicas protagonizadas por tecnocratas preocupados com o rigor fiscal enquanto a pobreza grassa e a desigualdade se aprofunda É inacreditável que se dê tanta ênfase ao pagamento dos juros da dívida pública, capturada por investidores milionários, enquanto 33 milhões de pessoas passam fome neste que é um dos países que mais produzem e exportam alimentos no mundo. É inconcebível que, enquanto modelos de desenvolvimento sustentável são aplicados em vários países, por aqui aceite-se a transformação da Amazônia em pasto.

Economia é ciência humana, não exata. A economia que não tem como foco o ser humano e seu bem-estar nada mais é que um meio disfarçado de exploração. As matemáticas neoliberais que dominaram o mundo nas últimas décadas foram vencidas pela realidade: não se avançou na direção da igualdade. E a justiça social ficou em segundo plano.

Foi essa percepção que levou o Papa Francisco a convidar muita gente, especialmente os jovens, para gestar uma economia mais afinada com o Evangelho: a Economia de Francisco e Clara. Ao lançá-la, em carta de março de 2020, assim o Papa referiu-se ao exemplo de São Francisco de Assis: “Francisco despojou-se de toda a mundanidade para escolher Deus como estrela polar da sua vida, fazendo-se pobre como os pobres, irmão universal. Da sua escolha de pobreza brotou também uma visão da economia que permanece extremamente atual. Ela pode dar esperança ao nosso amanhã, não apenas em benefício dos mais pobres, mas da humanidade inteira. Aliás, ela é necessária para o destino de todo o planeta, a nossa casa comum, a nossa Irmã Terra Mãe”.

Na Carta Encíclica Laudato si’, o Papa ressalta que a preservação do meio ambiente não se dissocia da justiça social nem dos problemas estruturais da economia. “A ecologia estuda as relações entre os organismos vivos e o meio ambiente onde se desenvolvem. E isto exige pensar e discutir acerca das condições de vida e de sobrevivência de uma sociedade, com a honestidade de por em questão modelos de desenvolvimento, produção e consumo. Nunca é demais insistir que tudo está interligado” (LS 138). (…) As razões pelas quais um lugar se contamina exigem uma análise do funcionamento da sociedade, da sua economia, do seu comportamento, das suas maneiras de entender a realidade. (…) É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais. Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental. As diretrizes para a solução requerem uma abordagem integral para combater a pobreza, devolver a dignidade dos excluídos e, simultaneamente, cuidar da natureza” (LS 139)”, escreveu o Pontífice.

O que o Papa Francisco nos pede, tendo por base a Economia de Francisco e Clara, é que promovamos juntos a busca de um ideal de fraternidade atento, antes de tudo, aos pobres e excluídos. Rogou-nos o Papa: “Convido cada um de vós a ser protagonista deste pacto, assumindo um compromisso individual e coletivo para cultivarmos juntos o sinal de um novo humanismo, que corresponda às expectativas do homem e ao desígnio de Deus”.

Os princípios apregoados pelo Pontífice foram bem descritos e consolidados no 2º Encontro Virtual Global da Economia de Francisco e Clara, em novembro de 2021. Entre os pontos elencados, destacamos: defesa de uma “ecologia integral”, que reconheça as relações humanas, sociais, ambientais, políticas e econômicas respaldadas pelos valores franciscanos; participação dos pobres nos processos de criação das políticas sociais e econômicas; construção de uma sociedade em que mulheres, crianças e adolescentes, idosos, negras, negros e povos originários tenham seus direitos garantidos; valorização da educação pública, gratuita, inclusiva, libertadora, ambiental e artística. Enfim, uma economia sustentável, democrática e fraterna, como a Economia do Evangelho vivida e ensinada por Santa Clara e São Francisco de Assis.