Luís de Francisco
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Há exatos trinta anos escrevi o primeiro artigo n’A Federação, com este mesmo título. Em 1992 celebrávamos o centenário de nascimento do avô paterno, falecido alguns anos antes, 1968, de forma que não o conheci. A efeméride serviu para reunir os descendentes na casa da família, hoje Museu da Música. Além do pessoal do Coro do Bom Jesus, do qual o avô e todos os filhos fizeram parte, juntaram-se ao grupo dois jesuítas que conheceram bem o patriarca da família, padres Otacílio Sales e Sebastião Pescatori, que vive em Belo Horizonte, único remanescente dos que viveram no Bom Jesus.

A missa em casa e a festinha avivaram o desejo de conhecer melhor o italiano de quem herdei o primeiro nome.
O contato com o avô foi através das suas cópias de partituras; a bela caligrafia musical está presente em muitos arquivos que pesquisei: coros, bandas e orquestras. Aluno de João Narciso do Amaral e José Vitório de Quadros, inicialmente ele tocou trompete na Corporação Musical “Independência 30 de Outubro”; passou depois para a flauta, instrumento preservado no Museu da Música. Posteriormente, com problemas respiratórios, passou ao violoncelo.
Nascido Luigi Di Francesco, a 5 de setembro de 1892 em Montazzoli, região de Chieti, nos Abruzzos, ele emigrou ao Brasil com os pais, Nicolau e Concetta. Dela, herdou o talento musical. Casado com Maria Augusta (Mariquinha), a única avó que conheci, tiveram dez filhos, dentre os quais sobrevive a penúltima, Dirce, minha tia e professora no Cesário Mota.

Nestes últimos anos a pesquisa sobre a vida musical em Itu se intensificaram, para organizar o acervo do Museu da Música e, dentre tantas informações, descobri no avô um entusiasta das instituições musicais. Além de presidir a banda União dos Artistas (1933) quando se organizava a construção da sede na Rua Santa Rita, percebi que a fundação da Orquestra do Centro de Cultura Musical de Itu, em 1935, fora empenho seu ao lado do antigo colega de escola, padre José Maria Monteiro e do prof. Antonio Berreta. A orquestra foi responsável por séries de concertos em Itu e Salto, envolvendo cerca de quarenta músicos e um belo repertório de música europeia. A realidade naquele tempo não era muito diferente de hoje, no que diz respeito à grande dificuldade em manter associações culturais sem apoio financeiro… por isso ela durou cerca de dez anos.

Açougueiro como o pai, Luís manteve também pequena fábrica de colchões. Finalmente, incorporou-se ao escritório da Tecelagem São Pedro, como apontador, dada a sua notável caligrafia. Em meio aos operários, ele e o amigo Luís de Assis fundaram a Banda São Pedro, em 1945.

Da juventude ele trouxe o gosto pelas serestas, tempo do maestro Tristão Júnior. Na década de 1950 reuniu amigos e fundou o grupo “Seresteiros do Passado”, que se apresentava em programas de rádio e pelas ruas da cidade.
Nesta semana em que ele completaria 130 anos, queria cumprimentá-lo pelo entusiasmo à cultura, batalhador para que a música estivesse sempre presente na vida de Itu.