É possível um mundo novo?
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Uma alternativa ao ódio, violência e barbárie

Face à presente avalanche de fenômenos negativos (violências, guerras, crises sociais e ambientais, proliferação de novas doenças e mortes) surgem naturalmente incertezas sobre o futuro do mundo. Pessoas idealistas, mesmo em meio à destruição de seus sonhos e utopias, mantêm a certeza sobre o avanço rumo a uma sociedade mais justa, solidária e igualitária; e lutam por transformações e evolução das relações humanas e sociais nesta direção.

Em sua célebre ficção científica ‘Admirável Mundo Novo’ (1932), Aldous Huxley prevê um futuro sombrio para a humanidade. Em 2020, no bojo da crise atual, este livro foi transformado numa série de televisão. Partindo da crítica política, social, estética e espiritual da sociedade contemporânea e de suas potencialidades autoritárias, o autor alerta sobre o perigo de destruição dos valores da civilização humanista.

Ele descreve uma sociedade utópica que consegue um estado de paz e estabilidade eliminando família, privacidade e pensamento criativo. Relacionamentos prolongados, paixão e religião são descartados e considerados anormais. Os seres humanos são ‘produzidos’ e educados em ‘centros de incubação e condicionamento’. A droga ‘soma’ é universalmente distribuída para criar um estado de felicidade artificial. Em contraponto, o personagem Bernard Marx experimenta uma ‘infelicidade doentia’, não vendo mais graça nos prazeres ilimitados da promiscuidade dominante.

O caminho apontado para curá-lo é visitar um dos poucos remanescentes de uma ‘Reserva Selvagem’, onde a antiga vida ‘imperfeita’ subsiste. Mais do que uma ficção científica, ‘Admirável Mundo Novo’ é fundamentalmente um manifesto humanista – denúncia da desumanização, crítica ao materialismo, cientificismo, automatização, padronização e negação da dignidade individual predominantes na modernidade tecnocrática.

Em 1958, Aldous Huxley escreveu ‘Retorno ao Admirável Mundo Novo’. Fazendo um balanço de seus prognósticos anteriores, ele discorre sobre as ameaças da superpopulação, manipulação genética e psicológica, uso de drogas como forma de controle social, ascensão de regimes autoritários e flexibilização da noção de verdade. A recente proliferação de mensagens falsas e a moldagem mental produzida pelas redes sociais, a manipulação emocional da publicidade e uso da tecnologia para controle social tornam ainda mais contemporâneas suas projeções.

As ervas daninhas da ambição e busca do poder enraizadas no coração humano e a expansão mundial de tendências destrutivas e autoritárias confirmam uma visão pessimista a respeito do futuro da humanidade. Todavia, existem também os que recusam tal situação, manifestando amor e fraternidade. Eles confirmam a revelação do Antigo e do Novo Testamento sobre o projeto divino de uma nova humanidade e a proposta de ‘novos céus e uma nova terra’.

Esta proposta frutifica nas experiências comunitárias dos discípulos de Jesus, relatadas nos Atos dos Apóstolos. Ela permanece viva em várias comunidades, como as de monges católicos que partilham seus bens, dons e serviços. Tais experiências demonstram a possibilidade de outro tipo de relações sociais e repartição das riquezas. Sua realização ocorre não pelo caminho da luta pelo poder, mas por uma construção em comum baseada no amor e serviço a Deus e ao próximo. A observação e participação nesses processos inovadores alimentam minha otimista esperança no nascimento de um futuro mundo novo.