O desafio de voltar às  missas “de verdade”
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por Celso Tomba

“Voltemos com alegria à Eucaristia!” Esse é o título da carta do cardeal Robert Sarah, prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, endereçada aos presidentes das Conferências Episcopais da Igreja Católica do mundo todo, aprovada pelo Papa Francisco no último dia 3 de setembro. A carta aborda vários aspectos sobre a celebração da liturgia durante e depois da pandemia de Covid-19 e afirma, de forma contundente: “é urgente voltar à normalidade da vida cristã com a presença física na Missa, nos locais onde as circunstâncias o permitirem: nenhuma transmissão é equiparável à participação pessoal ou pode substituí-la.”
Não há dúvida que as transmissões das missas pelas rádios, televisões e redes sociais foram de grande auxílio nesses tempos de isolamento social. “Os meios de comunicação desenvolvem um precioso serviço aos doentes e àqueles impossibilitados de ir à igreja, e prestaram um grande serviço na transmissão da Santa Missa num momento em que não havia possibilidade de celebrar comunitariamente”, destaca o Cardeal Sarah. Ele alerta que as transmissões da Missa “correm o risco de nos afastar de um encontro pessoal e íntimo com o Deus encarnado que se entregou a nós não de forma virtual, mas sim, dizendo: ‘Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele’ (Jo 6,56). Esse contato físico com o Senhor é vital, indispensável, insubstituível.”
O próprio Papa Francisco já se mostrava preocupado com isso. Em abril deste ano, ele destacou que “o isolamento a que somos obrigados neste momento, devido à pandemia e a impossibilidade de participar da celebração eucarística, não deve nos acostumar a viver somente uma fé íntima.” O Papa lembrava que assistir à missa e conectar-se às pessoas “através de uma tela, sem estarem presentes fisicamente” era uma modalidade necessária, a única possível na emergência do momento. “Mas isso não pode nos fazer esquecer que a Igreja, os Sacramentos, o povo de Deus são concretos.”

“A familiaridade dos cristãos com o Senhor é sempre comunitária. Uma familiaridade sem comunidade, sem pão, sem a Igreja, sem o povo, sem os sacramentos, é perigosa.” (Papa Francisco)

Francisco nos lembra que “a relação do cristão com Deus deve ser uma relação de familiaridade, cotidiana, como a de quem se senta à mesa para tomar café da manhã e falar naturalmente do que está em seu coração. Uma familiaridade que é sempre comunitária, mesmo sendo pessoal e íntima. Porque uma familiaridade sem comunidade, sem relações humanas, sem a partilha do pão, sem os sacramentos, pode correr o risco de se tornar ‘gnóstica’, evanescente, isto é, ser reduzida a uma familiaridade apenas para mim, separada do povo de Deus”. Jesus viveu dessa forma com seus apóstolos: uma familiaridade comunitária, vivida à mesa, sinal de comunidade, “com o Sacramento, com o pão”.
Ao retomarmos nossa presença física às missas, precisamos resgatar o real sentido da celebração eucarística: “ouvir a Palavra, partir e partilhar o Pão na caridade e anunciar a alegria do Evangelho, de pessoa a pessoa, através do testemunho da vida e da proximidade concreta”. Precisamos reaprender a participar da missa, de verdade!

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