Entre a razão e a fé:  O desafio de reencontrar Deus no mundo contemporâneo
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Vivemos em um mundo de inúmeras controvérsias, em que os valores cristãos são constantemente sufocados por diversas circunstâncias que fazem o ser humano perder, muitas vezes, o sentido religioso da vida. Deus vai desaparecendo do cotidiano da sociedade, e tornam-se cada vez mais evidentes os sinais de um secularismo que esvazia a religiosidade e enfraquece a dimensão espiritual de milhares de pessoas.
É como se estivéssemos revivendo o período do Iluminismo, quando, em nome da razão, difundia-se a ideia de que a religião desapareceria e de que o pensamento humano absoluto prevaleceria, separando a fé da vida cotidiana e atribuindo ao homem uma suposta liberdade, dignidade e autonomia diante de Deus.
Hoje, de certa forma, ainda vivemos algo semelhante. Contudo, diante dos acontecimentos recentes — não apenas no mundo, mas também em nosso país, em nossas cidades, bairros e vizinhanças —, torna-se evidente que o ser humano nada pode garantir sem Deus.
O Catecismo da Igreja Católica, no número 2566, nos fala que: “O homem anda à procura de Deus. Pela criação, Deus chama todos os seres do nada à existência. Coroado de glória e esplendor, o homem, depois dos anjos, é capaz de reconhecer que o nome do Senhor é grande em toda a terra. Mesmo depois de, pelo pecado, ter perdido a semelhança com Deus, o homem continua a ser à imagem do seu Criador. Conserva o desejo d’Aquele que o chama à existência. Todas as religiões testemunham esta busca essencial do homem.”
Essa citação afirma que o homem é, por natureza, um ser religioso, criado à imagem e semelhança de Deus e para Deus. A religiosidade está inscrita na própria essência humana; Deus está no seu “DNA”, ainda que muitos o ignorem. Essa marca divina leva o homem, em todo tempo e lugar, a buscar o transcendente, o sagrado e o sentido mais profundo da existência.
É justamente essa presença de Deus na origem da criação humana que o impulsiona a buscar, na religião, o sentido de sua vida e aquilo que o mundo não consegue oferecer. Por mais inteligente e capaz que seja, o homem jamais poderá gerar a vida nem determinar, por si só, o seu curso. Somente o Criador possui esse poder de sustentar e conduzir todas as coisas. Mesmo dotado de vasto conhecimento e de uma notável capacidade de aprender, o homem permanece, diante de Deus, com uma inteligência finita.
Desde o homem das cavernas até o homem digital, todos buscam, na experiência religiosa — e particularmente na fé cristã —, as condições para superar a própria finitude e dar sentido à sua existência passageira neste “vale de lágrimas”. O ser humano não pode, sozinho, responder às questões fundamentais da vida, por mais que se iluda com sua aparente autossuficiência.
É necessário, portanto, buscar a Deus, sobretudo por meio da oração. A oração é a abertura do coração humano a Deus; é ela que torna possível uma relação pessoal e viva com o Criador, o autor da vida, sem o qual nada somos. Deus jamais cessa de chamar o homem a uma vida de santidade e a um encontro pessoal consigo.
O Catecismo, no número 2567, também ensina:“Mas é Deus que primeiro chama o homem. Muito embora o homem se esqueça do seu Criador ou se esconda da sua face, corra atrás dos ídolos ou acuse a divindade de o ter abandonado, o Deus vivo e verdadeiro chama incansavelmente cada pessoa ao misterioso encontro da oração. Na oração, é sempre o amor do Deus fiel a dar o primeiro passo; o passo do homem é sempre uma resposta. À medida que Deus se revela e revela o homem a si mesmo, a oração surge como um apelo recíproco, um drama de aliança. Através das palavras e dos atos, este drama compromete o coração e manifesta-se ao longo de toda a história da salvação.”
Devemos aprender, pela oração diária e constante, que Deus nos chama à vida e nos reconduz à essência de nossa origem, à nascente da salvação, para irmos além dos limites da existência terrena, na medida em que nos abrimos à Sua presença. A relação de Deus com o homem é uma relação de amor infinito.
Muitas vezes, é necessário silenciar para ouvir a voz de Deus que fala ao coração e reconhecer, com humildade, que nada somos sem Ele. A vivência da oração é uma experiência que transcende a realidade humana e conduz o homem ao encontro com o mistério divino, onde encontra resposta para todas as inquietações da alma.