Jesus Cristo, Nossa Esperança XVII – A Ressurreição de Cristo e os desafios do mundo de hoje

Audiência Geral realizada na Praça de São Pedro, na quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
O mistério da morte sempre suscitou profundas interrogações no ser humano. Com efeito, ela parece ser o acontecimento mais natural e, ao mesmo tempo, mais inatural que existe.
É natural, porque na terra todos os seres vivos morrem. É inatural, porque o desejo de vida e de eternidade que sentimos por nós mesmos e pelas pessoas que amamos nos leva a ver a morte como uma condenação, como um “contrassenso”.
Muitos povos antigos desenvolveram ritos e costumes ligados ao culto dos mortos, para acompanhar e recordar quantos se encaminhavam rumo ao mistério supremo. No entanto, hoje verifica-se uma tendência diferente: a morte parece ser uma espécie de tabu, um acontecimento a manter distante; algo de que falar em voz baixa, para evitar perturbar a nossa sensibilidade e tranquilidade. Por isso, muitas vezes, até se evita visitar os cemitérios, onde aqueles que nos precederam repousam à espera da ressurreição.
Portanto, o que é a morte? É realmente a última palavra sobre a nossa vida? Só o ser humano se coloca esta pergunta, porque somente ele sabe que deve morrer. Mas estar ciente disso não o salva da morte; aliás, em certo sentido, isso “sobrecarrega-o” em relação a todas as outras criaturas vivas. Os animais sofrem, certamente, e percebem que a morte está próxima, mas não sabem que a morte faz parte de seu destino. Não se interrogam sobre o sentido, o fim, o êxito da vida.
Constatando esse aspecto, deveríamos pensar que somos criaturas paradoxais e infelizes, não só porque morremos, mas também porque temos a certeza de que esse acontecimento ocorrerá, embora ignoremos como e quando. Descobrimo-nos conscientes e, ao mesmo tempo, impotentes. Provavelmente, é daqui que provêm as frequentes remoções e fugas existenciais diante da questão da morte.
No seu famoso escrito, intitulado Preparação para a Morte, Santo Afonso Maria de Ligório reflete sobre o valor pedagógico da morte, evidenciando como ela é uma grande mestra da vida. Saber que existe e, sobretudo, meditar sobre ela ensina-nos a escolher o que realmente dá destino à nossa existência. Rezar, para compreender o que é benéfico em vista do Reino dos Céus, e abandonar o supérfluo que, ao contrário, nos liga às realidades efêmeras, é o segredo para viver de modo autêntico, na consciência de que a passagem pela terra nos prepara para a eternidade.
No entanto, muitas visões antropológicas atuais prometem imortalidades imanentes, teorizando o prolongamento da vida terrena mediante a tecnologia. É o cenário do transumano, que abre caminho no horizonte dos desafios do nosso tempo. A morte poderia ser verdadeiramente derrotada com a ciência? Contudo, a própria ciência poderia garantir-nos que uma vida sem a morte também é uma vida feliz?
O evento da Ressurreição de Cristo revela-nos que a morte não se opõe à vida, mas é parte constitutiva dela, como passagem para a vida eterna. A Páscoa de Jesus faz-nos saborear antecipadamente, neste tempo ainda cheio de sofrimentos e provações, a plenitude do que acontecerá após a morte.
O evangelista Lucas parece captar este presságio de luz na escuridão quando, no final daquela tarde em que as trevas envolveram o Calvário, escreve: «Era o dia da Parasceve e já resplandeciam as luzes do sábado» (Lc 23,54). Esta luz, que antecipa a manhã da Páscoa, já brilha na escuridão do céu, que ainda parece fechado e emudecido. Pela primeira e única vez, as luzes do sábado anunciam antecipadamente a aurora do dia depois do sábado: a nova luz da Ressurreição! Só este acontecimento é capaz de iluminar profundamente o mistério da morte. Nesta luz, e somente nela, torna-se verdadeiro o que o nosso coração deseja e espera: que a morte não é o fim, mas a passagem para a luz plena, para uma eternidade feliz.
O Ressuscitado precedeu-nos na grande prova da morte, saindo vitorioso graças ao poder do Amor divino. Assim, preparou-nos o lugar do descanso eterno, a casa onde somos esperados; ofereceu-nos a plenitude da vida, onde não há mais sombras nem contradições.
Graças a Ele, morto e ressuscitado por amor, com São Francisco podemos chamar a morte de “irmã”. Aguardá-la com a esperança certa da Ressurreição preserva-nos do medo de desaparecer para sempre e prepara-nos para a alegria da vida sem fim!

