CF 2025: “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31) – Agir / Propor
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Ver a realidade e identificar nela a presença do pecado ecológico só é possível se a olharmos sob a luz da Palavra de Deus. Essa mesma luz, que ilumina a realidade, ilumina-nos interiormente para agir, mudando atos e atitudes pessoais, comunitários e sociais em vista de uma ecologia integral que garanta a continuidade da vida na Terra, nossa Casa Comum. O jornal “A Federação” encerra, nesta edição, a publicação do artigo do padre Jean Poul Hansen, secretário executivo de Campanhas na CNBB, um guia para compreender os principais aspectos da CF-2025.

 

4. Agir à luz da Palavra para transformar a realidade do pecado na Vida Nova da Graça Pascal

Não existe verdadeira conversão sem ação, sem mudança concreta de vida, dos atos e atitudes da pessoa, da comunidade e da sociedade que se dispõe docilmente a moldar-se segundo a vontade ou o projeto de Deus, expresso no Evangelho do Reino. O êxito da ação, no entanto, depende, em grande parte, da capacidade de ver/ouvir e de refletir/discernir.

O exercício de ver e ouvir a realidade com o olhar contemplativo mobiliza diversas possibilidades de ação e de tomada de posicionamento diante dos desafios que se apresentam. De modo especial, o agir é consequência de processos de discernimento espiritual, debate coletivo, planejamento comunitário e decisões conjuntas que fazem parte de instâncias maiores de participação e transformação social (TB CF-2025, n. 132).

Bastaria isso para que cada pessoa, comunidade ou expressão da sociedade civil imersa nesse processo concluísse suas próprias ações, suas necessidades de mudança e conversão na relação com a Casa Comum e com todos os seus habitantes.

Essas ações, porém, devem ser expressões concretas de uma mudança de mentalidade, de estilo de vida, que permaneça doravante. Por isso, o Texto-base da CF-2025, no n. 138, apela a todos nós:

Conclamamos todas as pessoas de boa vontade a considerarem também a urgente necessidade de diminuirmos a marcha, de desacelerar nosso modelo desenvolvimentista. “Quando se colocam estas questões, alguns reagem acusando os outros de pretender parar irracionalmente o progresso e o desenvolvimento humano. Mas temos de nos convencer de que reduzir um determinado ritmo de produção e consumo pode dar lugar a outra modalidade de progresso e desenvolvimento” (LS 191). […] É preciso rever nosso modelo de progresso, redescobrir a dimensão transcendente da vida, a capacidade humana de contemplação e reafirmar a dimensão profunda do repouso (LS 237). Por conseguinte, precisamos considerar formas menos produtivistas de organização do trabalho e do tempo de trabalho, salvaguardando uma remuneração digna e justa e condições laborais e previdenciárias cada vez mais humanizadas aos trabalhadores. O aumento da carga horária mundial de trabalho é nocivo para a Casa Comum, assim como “o princípio da maximização do lucro, que tende a isolar-se de todas as outras considerações, é uma distorção conceitual da economia” (LS 195). Como, porém, fazer isso concretamente?

A alternativa mais econômica e eficaz consiste em reduzir em curto prazo as emissões de dióxido de carbono (CO2) e de metano (CH4), fazendo a transição energética e apoiando a substituição da energia proveniente de combustíveis fósseis pela energia solar e eólica, entre outras. Isso pode trazer benefícios significativos, em termos de sustentabilidade e desenvolvimento econômico: é fundamental que seja feito de maneira justa e respeite os direitos das comunidades locais, incluindo a consulta e o consentimento prévio, livre e informado. Isso significa envolver as comunidades, desde o início do processo de planejamento, e garantir que elas tenham voz nas decisões que afetam suas terras e meios de subsistência. Também é importante considerar os impactos ambientais negativos das fazendas eólicas e implementar medidas para minimizar seus efeitos, protegendo comunidades rurais, ecossistemas sensíveis e biodiversidades locais.

Outras ações possíveis são:

  • a redução do desmatamento e da degradação das florestas e a restauração ecológica;
  • o tratamento do lixo;
  • o combate ao desperdício de alimentos;
  • a valorização de modelos alternativos de produção;
  • o combate ao consumismo;
  • o investimento no saneamento básico;
  • as políticas públicas de prevenção na saúde e de enfrentamento das mudanças climáticas;
  • o investimento na educação ecológica e ambiental nas comunidades, escolas e universidades; etc.

Para nos inspirar à ação, o Texto-base apresenta boas práticas que estão sendo desenvolvidas pela Igreja e por organizações da sociedade civil em todas as regiões do Brasil (n. 139-153).

Pessoa, comunidade – e, nela, a escola católica – e sociedade, também os operadores das artes, da cultura e da mídia, são desafiados a encontrar seus caminhos próprios para a ação em defesa da Casa Comum.

Tempos especiais de mobilização, por iniciativa local ou mundial, são oportunidades para prolongar por todo o ano a reflexão da CF, em vista da conversão das atitudes e da consequente mudança do modo de vida no planeta:

  • Semana Laudato Si’, de 18 a 25 de maio;
  • Junho Verde;
  • Tempo da criação, de 1º de setembro a 4 de outubro;
  • As celebrações dos 800 anos do “Cântico das criaturas”;
  • Todo o processo de preparação e realização da COP 30 em Belém-PA.

Concluímos nossa reflexão com o mesmo espírito que a iniciamos: de contemplação agradecida e de disposição para a conversão. Com São Francisco, queremos dizer repetidamente: “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas!” No entanto, com o papa Francisco, queremos também reconhecer a urgência de empreender um “percurso de reconciliação com o mundo que nos alberga e […] enriquecê-lo com o próprio contributo, pois o nosso empenho tem a ver com a dignidade pessoal e com os grandes valores” (LD 69).

(artigo publicado na revista Vida Pastoral, mar-abr/2025)

 

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