Meu Natal revivido!
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por Lázaro José Piunti

 

Eu tinha 5, ou 6 anos. Nasci dia 13/10/1946. Possivelmente este Natal ocorreu em 1951/52. Vivíamos no sítio. Na véspera, fui com meu pai, Domingos, à chácara vizinha do senhor Jeremias comprar uvas. Fariam parte da sobremesa natalina, com as frutas da nossa horta. Melancia e o delicioso doce de abóbora preparado por mamãe Carolina. Além do bolo de fubá que ela assava no forno a lenha. Mamãe depenou dois frangos gordos criados livremente no terreiro. Um capado preparado no meio da semana estava conservado na lata de banha. Finalmente chegou o dia.

Na semana anterior mamãe montara o presépio na sala, com a árvore de natal feita de um galho de cipreste. Lá eu deixara meu sapato à espera do brinquedinho que Papai Noel traria de madrugada.

Pela manhã corri até o presépio. E lá estava um caminhãozinho de madeira, cabine azul, carroçaria envernizada, barbante amarrado no “parachoquinho” para a gente puxá-lo pela casa. Que alegria! Eu, caçulinha de 12 irmãos, com idade próxima dos meus sobrinhos.

Eles foram chegando. Cada criança exibindo o seu brinquedo. Ademir, muito pampeiro, com a sua bola de borracha colorida. Hélio e sua corneta de plástico assoprando-a sem parar. Alguém tocava gaita de boca. Não demorou e os adultos nos despacharam para que fossemos orquestrar lá fora. A barulheira era enorme. Os mais velhos da família iniciaram um jogo de truco na mesa grande da sala, enquanto minha irmã Maria Elena, minha outra irmã, Terezinha, já casada, mãe do Ademir e Hélio (ela era minha madrinha de batismo), se revezavam na cozinha auxiliando minha mãe.

O cheiro vindo do fogão a lenha era bom. Macarronada, carne moída, frango frito – ingredientes saborosos do almoço da roça. Inesquecível! Muito antes da chegada do pessoal, mamãe já acompanhara a santa Missa, transmitida no rádio a válvula, pela Rádio Record, PR B 9 – a maior. Na véspera do natal à meia noite, eu, pingando de sono, não resistira à Missa do Galo. Enfim, o almoço. Que se prolongou até três da tarde.

Lembro-me feliz e com saudade: meus irmãos Toninho, Benedito, João, Sylvio, Arlindo. Os mais velhos, Maria (Quita), Carmen (Nena) Luiz e Assumpta, moravam mais longe e estavam ausentes. Mas, nos visitavam quando possível. Telefone não havia na família. As distâncias, na época, pareciam maiores, pois os meios de transporte eram escassos.

Cartas eram trocadas, vez por outra. Este foi um dos tantos natais em família, em tempos longínquos, onde a felicidade dos simples envolvia os corações. E isso nos bastava!