O mundo e seu  novo magistério
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Uma das centenas de mentiras que nos são contadas na escola é a de que Martinho Lutero promoveu a reforma protestante porque estava indignado com a situação da Igreja em sua época, tomada pela imoralidade e pela corrupção. Essa “revolta” de Lutero é usada para achincalhar a Igreja, desmoralizando-a perante as mentes incautas de adolescentes e jovens já vindos de casa muitas vezes desprovidos de bases suficientes para enfrentar aquela enxurrada de besteiras.
De fato, havia imoralidade e corrupção no meio eclesiástico nessa época, mas não foi essa a razão da revolta. Lutero, sim, contestou a doutrina católica, o problema dele era doutrinal. Fraco que era, fruto de uma época de decadente ensino e de – admitamos – muito contratestemunho, não foi capaz de confiar na Graça de Deus, na Eucaristia que ele celebrava e na Igreja, Corpo Místico de Cristo e continuação da presença de Nosso Senhor no mundo. E, por conta disso, saiu modificando tudo quanto não concordava na doutrina já de 1.500 anos para adequar a religião às suas necessidades pessoais e às de seus príncipes patrocinadores. E, quando se começa negando uma só verdade, logo se estará negando outra, e outra, e mais outra, até se ver mergulhado na apostasia completa. Tanto que, depois de certo tempo, era nítido o ódio que Lutero nutria pela Santa Missa, que é a realidade mais sublime do cristão.
Cego pela presunção, Lutero forjou a doutrina da “sola scriptura”, de que somente a Bíblia contém a Palavra de Deus, com o objetivo de banir completamente de sua nova religião a Tradição (que sustenta as Sagradas Escrituras) e o Magistério do Papa como sucessor de Pedro.
O problema é que, ao abolir o magistério da Igreja e a autoridade moral que ela exercia no mundo civilizado (Sim, independente da má conduta de muitos de seus membros!), inevitavelmente alguém haveria de ocupar esse espaço, passando a ditar e a impor as regras a serem seguidas, inclusive de ordem religiosa e moral. Esse papel, consciente ou não, Lutero entregou-o às universidades e, por meio delas, ao poder civil. Daí em diante, a Igreja foi pouco a pouco perdendo a sua capacidade de guiar os homens, de educar as consciências e de estabelecer princípios básicos de convivência, com base no Evangelho e em sua doutrina moral e social.
Lamentavelmente, o resultado disso nos nossos dias é de que temos e praticamos a religião que o Estado “permite” que pratiquemos. “– Você quer ter sua religião? Então a tenha dentro da sua igreja, da sua sacristia, do seu quarto! E que ela não interfira nos rumos da sociedade porque, caso contrário, nem assim poderá tê-la!”. Podemos viver nossa Fé (por enquanto!), mas não podemos nem a prega-la, nem defender-la para não ofendermos pessoas que “pensam diferente”, sobretudo esse novo “magistério” que, embora minoritário, faz um barulho danado.
Veja-se toda a apologia ao aborto no Brasil e no mundo, patrocinada por organizações internacionais, na qual se relativiza o direito de uma vida inocente e indefesa em favor do direito da mãe, como se este se sobrepusesse àquele. A Igreja e os cristãos são ridicularizados em sua defesa, que antes de ser doutrinal é baseada na Lei Natural. E suas manifestações em contrário são cada vez mais ignoradas e sufocadas. “Tirem seus rosários dos meus ovários”, clamam diabolicamente as feministas em favor de seus “direitos reprodutivos”, acobertadas pelo Estado.
Missionários já não podem adentrar aldeias para evangelizar os índios para não atentar contra suas culturas; os cristãos não podem defender a família e o único casamento, entre homem e mulher, como impõem a Lei Natural e a Revelação, porque ferem o direito de minorias articuladas a “serem felizes”; crucifixos e símbolos religiosos já não são convenientes em espaços públicos para não ofenderem o estado laico; sinos atrapalham o sossego e os relógios das igrejas não podem mais marcar as horas à noite; câmaras de vereadores já não podem iniciar suas sessões e trabalhos com os dizeres “sob a proteção de Deus”, como determinou recentemente a justiça em ação movida pelo Ministério Público de São Paulo… E por aí vai, até chegarmos às aberrações vividas durante a pandemia de Covid, quando coube ao Estado definir que as práticas religiosas não eram essenciais para os fiéis e que, portanto, deveriam ser suspensas, e que a comunhão deveria ser distribuída aos fiéis “pré-embaladas individualmente”, como ocorreu em Santa Catarina. Tudo sob a vergonhosa subserviência da igreja…
Ao afastar a autoridade da Igreja, que é o próprio Cristo vivo e presente na História, Lutero deu o pontapé inicial ao banimento de sua autoridade moral na condução do comportamento da sociedade, fenômeno que atingiu inclusive muitos que se dizem católicos, mas que vivem sem que de fato o sejam. O resultado: um mundo cada vez mais paganizado, promíscuo e mau, em que os valores religiosos e morais são restritos a alguns poucos teimosos.
Deus abençoe, fortaleça e faça perseverar a teimosia desses poucos.