Confessai-vos bem!
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Para iniciar este artigo, sobre um assunto de vital importância para o cristão, empresto o título de uma grande obra sobre o sacramento da Penitência: Confessai-vos bem!, de autoria do Pe. Luiz Chiavarino. Editada em meados do século passado pela Paulinas, trata-se de um excelente compêndio sobre a confissão, composto de diálogos, fatos e exemplos didáticos, que mereceu recente reedição por algumas editoras, para que continuasse ajudando os fiéis a tomarem consciência do valor desse sacramento e do grande proveito espiritual que se pode tirar dele.
A Lei da Igreja obriga-nos a confessarmos pelo menos uma vez por ano, de preferência para a comunhão pascal. Mas, será suficiente o cumprimento dessa regra? Será que podemos viver tranqüilamente durante um ano inteiro sem nos confessarmos? Para refletirmos sobre o assunto é necessário antes de tudo saber o que é e para que serve a confissão.
O sacramento da Penitência foi instituído por Cristo logo após a ressurreição, quando apareceu aos apóstolos e, soprando sobre eles o Espírito Santo, disse-lhes: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,23). Com estas palavras, Cristo deu aos apóstolos e aos seus sucessores no sacerdócio o poder de perdoar os pecados em Seu nome, pelos méritos de sua paixão e morte de cruz.
A confissão não só tem a finalidade de perdoar-nos os pecados e reconciliar-nos com Deus, mas também – e isso muita gente ignora – de restituir-nos a paz da consciência e os méritos que tínhamos antes de pecar, de preservar-nos das recaídas e fortificar-nos para o progresso espiritual, de robustecer-nos na caminhada de cristãos. “Bem-aventurados aqueles que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”, afirma-nos Nosso Senhor (Mt 5,6). E São João Paulo II, na encíclica Redemptor hominis, completa dizendo que “O sacramento da Penitência é o meio para saciar o homem com a justiça que vem do próprio Redentor”. Daí um sacerdote amigo que freqüentemente dizia: “O bom católico confessa-se pelo menos uma vez por mês!”. Sim, porque ele era consciente dos abundantes frutos desse inefável sacramento.
A perda da consciência de pecado ou a indiferença ao que é certo ou errado, na ordem moral e religiosa, fez com que muitos abandonassem a prática da confissão freqüente. Felizmente alguns ainda mantêm, a certo custo, o costume de fazê-la por ocasião da Páscoa, que é o mínimo que se espera de um cristão. Mas, aquele verdadeiramente consciente do valor desse sacramento não só o procura mais vezes no ano, como elege um confessor fixo, que eventualmente poderá ser também o seu “diretor espiritual”. Alguém que não se limite a apenas dar a absolvição pelas faltas declinadas, mas que o ajude a crescer na Fé e na vivência do evangelho.
Levados pelo relativismo ao sagrado e por um nocivo sentimento de auto-suficiência, muitos, mesmo cristãos “praticantes”, chegam a esquivar-se da confissão justificando-se não precisarem, para obter o perdão de suas faltas, contá-las a alguém que também é humano e pecador. Esquecem-se que aos sacerdotes, independente da conduta ou da vida que eventualmente possam levar, foi dado por Cristo o poder de perdoar os pecados em Seu nome.
Outro aspecto que merece ser considerado é que muitos padres, hoje em dia, furtam-se ao atendimento dos fiéis, absorvidos por compromissos às vezes alheios ao seu múnus de cura de almas. Ou atendem a muito custo, mediante os malfadados agendamentos nas “secretarias paroquiais”. Em vista dessa problemática, têm sido inúmeras as exortações da Santa Sé chamando atenção do clero para a dedicação e seriedade que devem dispensar aos fiéis que os procuram em busca do perdão de seus pecados ou de qualquer orientação para suas vidas.
Nesse tempo em que o mal, o indiferentismo e até o ódio à Fé cristã alastram-se cada vez mais, é importante resgatar o sentido e a prática da confissão, unidos ao propósito de nos achegarmos mais vezes a ela durante o ano como forma de mantermos estreitos nossos laços de união Àquele que nos comprou com o Seu Sangue e que hoje espera de nós também uma resposta a Seu grandioso ato de amor.