Um Externato em Campinas (3)
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Um dia, porém, a intranquilidade aumenta. A “Princesa do Oeste” é assolada por terrível epidemia. A febre amarela superlota o pavilhão de isolamento. Há necessidade de um hospital ambulante. E lá se vão as Irmãs, indiferentes ao perigo do contágio, recolher feridos nas casas e na via pública. Provam também o amargor da doença. Ao fazer o balanço das vítimas, assinalam a perda da querida Irmã Serafina. A cidade rende-lhe o culto devido aos heróis. E até hoje, marcando sua passagem pela terra das andorinhas, lá está a rua Irmã Serafina, imortalizando a “Virgem do Senhor, que longe dos seus parentes e de sua pátria, tendo contraído a doença velando à cabeceira dos enfermos, sacrificou-se inteira em favor de seus irmãos, como inteiro se consome o incenso na ara do sacrifício.”
Algo além da cura dos doentes levara as religiosas à progressista Campinas. E a 3 de março de 1879, Madre Teodora vai de Itu expressamente para inscrever no livro de matrícula de mais um externato josefino o nome da primeira aluna. Com letra firme, sorrindo maternalmente, escreve: Maria Salomé de Paiva, campineira, 11 anos, filha do Sr. Caetano de Paiva e dona Francisca Laura Xavier.
Mais um marco, mais um núcleo de atividades em prol da família paulista. Madre Teodora exulta, a ansiosa espera que os céus lhe venham em auxílio, para que, no menor prazo possível, surja ao lado do externato o ninho protetor de orfãzinhas queridas.
Ceifadora cruel de vidas preciosas, mais uma vez a febre amarela se abate sobre a cidade, trazendo em seu cortejo de dores um número imenso de crianças lançadas à orfandade. Confrange-se o coração da piedosa serva de Deus, e seus apelos encontram eco na alma bondosa do Dr. Francisco Pereira Lima. Organiza ele uma quermesse, e da generosidade do povo, surge o dinheiro necessário para pôr em prática a ideia do orfanato.
Em pouco tempo, ganham, as avezinhas atingidas pela desdita, novo ninho, onde voltarão a gorjear, porque nele haverá sempre quem vela pela sua sorte, quem se sacrifique para que, um dia, possam alçar voo e viver tranquilamente nos paramos que Deus lhes destinar.
Madre Teodora, não podendo ficar sempre com suas queridas filhas de Campinas, deixa-as, não sem antes dirigir-lhes conselhos de encorajamento: “Reconhecei sempre Nosso Senhor nos doentes e nas meninas confiadas à vossa guarda. Pensai: se Nosso Senhor encontrasse um pobre doente ou uma pobre menina abandonada, como os curaria, como os consolaria. Jesus não está mais na terra e encarrega-vos de lhe fazerdes as vezes. Respondei com amor, confiança e reconhecimento a este apelo do Divino Mestre.” Pela oração, sacrifícios e uma constante abnegação, procurai fazer o maior bem possível às almas que vos forem confiadas.”
Até hoje ecoam as palavras da fundadora aos ouvidos de suas filhas. E por isso sobra-nos razão, ao desfolharmos o livro secular da Congregação no Brasil, para enaltecer o vulto hercúleo de Madre Teodora, vendo no devotamento de suas dirigidas, como muito bem frisa uma de suas ilustres biógrafas, “nada mais que o reflexo brilhante do coração que, sereno, firme e confiante, dirigiu o barco da Congregação, olhos fixos no sacrário, norte infalível que conduz ao céu.”