Monsenhor Camilo Ferrarini (1924-2003)
por Milva Regina Guarnieri Savi
Em 21 de julho de 1924, nascia na localidade de Timbu Velho, no município de Campina Grande, próximo a Curitiba (PR), o sétimo filho do casal João Ferrarini e Maria Slompo: Alberto Ferrarini.
Viveu a sua infância em uma casa ampla de madeira, na Colônia Faria, município de Colombo (PR). Ia sempre à igreja com seus pais, que eram muito católicos.
Com 11 anos de idade, Alberto ingressou no Juvenato Champagnat, dos Irmãos Maristas, em Curitiba. Em 1939, no 2º ano ginasial, foi estudar em Mendes (RJ), preparando-se para o Noviciado. Aos 15 anos, decidiu regressar à casa paterna e continuar seus estudos em Curitiba.
Em um de seus relatos, revelou sua vontade de se tornar advogado. Porém, sentiu o chamado de Deus para ser sacerdote e decidiu ingressar no Convento dos Padres Passionistas, em Curitiba, em 1946, com quase 22 anos.
No livro “Família Religiosa do Convento do Cabral – Curitiba”, de 1946, o jovem Alberto aparece com o nome religioso que escolheu: Camilo de Nossa Senhora da Saúde, em homenagem a São Camilo de Lellis, seu santo protetor, e à padroeira da paróquia da Colônia Faria, no Paraná, onde viveu.
Foi ordenado sacerdote em 12 de junho de 1954, em São Paulo, e no dia seguinte celebrou sua Primeira Missa, na Igreja do Calvário, também em São Paulo, onde pregou sua pregou sua primeira missão. Em 1955, pregou missões em Maria da Fé (MG) e em Cosmópolis (SP), junto com outros missionários passionistas.
Em janeiro de 1958, foi nomeado vigário na Paróquia de Santo Antônio, em Osasco (SP), permanecendo até 1961. Pregou missões e foi vigário nas cidades de Colombo, Adrianópolis e Cerro Azul, todas no Paraná.
Em 1966, foi chamado para ser vigário pela segunda vez em Osasco (SP). Em dezembro de 1967, Dom Agnelo Rossi, Arcebispo Metropolitano de São Paulo, criou a Região Episcopal Oeste 2 com sede na Paróquia Santo Antônio, em Osasco, concedendo o título de Monsenhor ao padre Camilo Ferrarini.
Como um verdadeiro pastor, Monsenhor Camilo trabalhou arduamente arrebanhando o povo e construindo muitas capelas e igrejas. Tinha como lema “uma igreja em cada bairro”. Permaneceu em Osasco até 10 de março de 1971 e, após 17 anos como padre passionista, decidiu pedir afastamento da congregação.
Terminado o mandato como Vigário Episcopal de Osasco (SP), Monsenhor Camilo foi chamado a assumir uma Paróquia em Avaré (SP), a pedido de Dom Vicente Zioni, bispo da diocese de Botucatu.
Porém, antes de assumir a paróquia já aceita por ele, Monsenhor Camilo foi convidado a passar uns dias na cidade de Itu (SP), onde foi recebido na Paróquia Nossa Senhora da Candelária pelo então vigário padre Luiz Gonzaga de Melo Camargo, que aguardava a liberação de Dom Gabriel Paulino Bueno Couto, então bispo diocesano de Jundiaí, para deixar a paróquia.
Sabendo da proximidade da saída do vigário e encantados com o padre alegre e sorridente que estava visitando a cidade, um grupo de ituanos decidiu pedir a Dom Zioni que liberasse Monsenhor Camilo para ficar em Itu. O bispo relutou muito diante do pedido dos ituanos, mas acabou consentindo.
Monsenhor Camilo ficou extremamente feliz com a notícia, pois já havia se encantado pela cidade e pelo povo. Dom Gabriel aceitou Monsenhor Camilo Ferrarini na Diocese de Jundiaí e o designou como vigário coadjutor da Paróquia Nossa Senhora da Candelária, até que em julho de 1971 assumisse oficialmente a função de vigário.
Em julho de 1972, o jornal “A Federação” publicou um vasto artigo sobre o sacerdote, do qual destacamos:
“Ao falar em Monsenhor Camilo, vem à mente a palavra dinamismo, de uma vontade férrea de realizar bem tudo aquilo a que se propõe ou que lhe é proposto. Seu apostolado, na cidade, se faz sentir de modo atuante, arrastando após si um grande número de leigos, que o coadjuvam no ministério: não é fácil acompanhar os apressados passos do pastor… E vai se estendendo ao meio rural, a fim de que a assistência religiosa seja um fato constante… Os sacramentos são todos devidamente preparados. O Vigário superintende pessoalmente a todos… Basta uma conversa com Monsenhor para que sua enorme e natural simpatia envolva o interlocutor e o leve a segui-lo no trabalho católico. Reparem o número de coroinhas que rodeiam o Monsenhor. É para mais de 50 o número deles; ai de quem os molestar!”
Monsenhor Camilo exerceu a função de vigário da Paróquia Nossa Senhora da Candelária por 23 anos, entre 1971 e 1994. Nesse período, não poupou esforços para trazer o povo ituano para vida de cristãos católicos. Preparava com amor todas as festividades cristãs durante o ano, especialmente Semana Santa, Corpus Christi, Coroação de Nossa Senhora, reza do terço em família, procissões gigantescas, primeiras comunhões, Crisma, Natal e encerramento do ano, além das festas da Candelária, do Divino, de Santo Antônio e de Santa Rita. Sem falar no atendimento a igrejas e capelas da cidade e da zona rural. Também em Itu, tornou-se mais uma vez um grande “construtor de igrejas”, contribuindo para a criação de novas comunidades e paróquias na cidade.
Foram muitos anos de trabalho, mas sempre com aquele mesmo sorriso, cativando as crianças, a quem tinha um carinho especial. Muitos de seus coroinhas e jovens participantes das comunidades se tornaram sacerdotes. Foi um exemplo de sacerdote, amigo, irmão, conselheiro, confessor e “pai”.
Mesmo após deixar o trabalho à frente da paróquia, continuou morando em Itu, cidade que escolheu para viver, sempre disposto a atender e ajudar as pessoas que dele precisassem.
Em maio de 1997, foi diagnosticado com leucemia do tipo I. Devido ao longo tratamento, foi obrigado a parar de atender as pessoas. Com a doença foi controlada, voltou a trabalhar, celebrando missas e casamentos e atendendo com moderação em sua casa.
Acometido de outra doença, o Mal de Parkinson, passou a ter dificuldades de se locomover e de falar. Seu organismo ficou muito debilitado, mas nunca reclamava. Sua fé continuou inabalável!
Na madrugada do dia 2 de junho de 2003, faleceu após um período de internação na Santa Casa. Por sua vontade expressa em vida, foi sepultado no cemitério municipal de Itu. No enterro, as pessoas cantavam e gritavam “vivas” ao Monsenhor Camilo.
Faleceu há 21 anos e estaria completando 100 anos de vida e 70 anos de sacerdócio. Não deixemos que sua memória seja esquecida, pois lá do céu, com certeza, está intercedendo junto a Deus por nós. Monsenhor Camilo será sempre lembrado como o eterno “Vigário de Itu”. E podemos dizer, sem medo de errar, que ele foi e será sempre um exemplo vivo de humildade e santidade.
Viva Monsenhor Camilo!!
Veja também: matérias e artigos publicados por ocasião do centenário de nascimento de Monsenhor Camilo Ferrarini:
- Missa marca centenário de nascimento de Monsenhor Camilo Ferrarini
- Monsenhor Camilo Ferrarini (1924-2003) – por Milva Regina Guarnieri Savi
- O centésimo 21 de julho de um pastor – por Altair José Estrada Junior
- Monsenhor Camilo: construtor de vidas – por Celso Tomba
- Recordando o saudoso “Mon” – por Pe. Salathiel de Souza
- Monsenhor Camilo: padre da piedade e caridade – por Diác. Tadeu Italiani
- O pároco da minha infância – por Luís Roberto de Francisco
- Monsenhor Camilo, obrigado! – por Pe. Enéas de Camargo Bête