Monsenhor Camilo: padre da piedade e caridade
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As décadas de 70,80 e 90 foram marcadas por um grande ícone religioso em nossa cidade: Monsenhor Camilo Ferrarini. Um padre de carisma acolhedor excepcional. Fui coroinha da Igreja Matriz Nossa Senhora da Candelária no início dos anos 90 e pude ver e testemunhar o quanto esse sacerdote era dedicado e empenhado em mostrar o caminho do céu aos paroquianos e a todo bom fiel que o procurava.
Era possuidor de uma tranquilidade e recebia a todos com a mesma mansidão. Tinha o dom de ouvir e quando as pessoas já não tinham mais o que falar, aí então ele, de forma muito serena, começa a falar e a conversar com as pessoas. Mesmo estando há pouco tempo com aquele fiel parecia que convivia com ele por muito tempo. Suas palavras de consolo, esperança e orientação ressoavam fortes nos corações das pessoas. Monsenhor Camilo era detentor de um grande espírito piedoso. Nunca o vi recusar atendimento a ninguém que lhe procurasse, poderia não atender na hora, mas pedia para a pessoa esperar, que assim que pudesse a atenderia.
Tenho na lembrança as inúmeras pessoas que participavam da “Missa dos Doentes”, toda primeira quinta-feira do mês. Os fiéis ficavam em pé nos corredores laterais e no fundo. Abençoava os alimentos, roupas e demais objetos como chaves de casas, carros, carteiras de trabalho, documento etc. A missa iniciava às 15h e desde às 13h30, lá estava Monsenhor Camilo no confessionário a atender confissões. Após a missa várias mães iam ao seu encontro na sacristia pedir conversar com ele sobre seus filhos. Muitas vezes terminava os atendimentos por volta das 18h e logo se preparava para a missa das 19h, porque fazia questão de acolher os coroinhas e seus pais.
Quando atendia aos pobres não deixava que fazia alardes e sempre orientava-nos a fazer a caridade sem falar nada. Coisa que levo comigo até hoje esse princípio. Monsenhor dizia: “Olha o que sua mão direita faz, a esquerda não deve saber, só Deus sabe o que você fez.” E assim ia ensinando e catequisando todos que estavam a sua volta.
Recordo-me o dia 1º de janeiro de 1993, quando chegava para ajudar na missa das 7h e o encontrei na porta da Igreja. Junto com outros coroinhas, nos convidou para dar uma volta pela praça; estava toda suja devido às comemorações da virada de ano. Ao retornar na matriz, ele disse: “Vocês viram essa sujeira, isso foi resultado de uma baderna e não de uma comemoração. As pessoas que promoveram isso, precisam conhecer Jesus, pois assim terão o respeito ao próximo. Isso que acabaram de ver foi feito por pessoas sem Deus no coração. Vamos rezar por elas.” Terminadas suas palavras entramos para missa.
Monsenhor Camilo tinha uma atenção especial com os coroinhas, as meninas que ajudavam casamento (MAC) e os jovens do JACA. Não media esforços para acolher a todos que participavam desses grupos, promovia jogos de futebol, basquete e demais atividades, claro que não posso deixar de mencionar as mesas de “Ping Pong” (tênis de mesa) e claro o inesquecível “pebolim”. Passávamos as tardes de sábado no quintal de sua casa, (onde ficava a quadra), e ele não se importava com o barulho, reclamava quando eram poucos meninos e meninas nas atividades. Aos domingos após a missa das crianças, corríamos para brincar e jogar na quadra.
No Dia de Finados, a missa da Par. Nossa Senhora da Candelária era às 15h no cemitério. Encontrávamo-nos na Matriz e íamos a pé ao cemitério, o retorno também era a pé. Ao chegar na Matriz, lá estava ele nos esperando com melancias. Literalmente era a festa da melancia.
Não há como não se recordar da missa das 8h30 aos domingos, a “missa das crianças”. Dezenas de violões, coroinhas, meninas do MAC, crianças da catequese e uma alegria contagiante. Muitas vezes aparentava estar cansado, mas revestia-se de grande alegria e entrava para celebrar. Nunca teve grande paramentos litúrgicos, sempre foi um padre da simplicidade e isso ele ensinava aos demais através do testemunho de seu sacerdócio.
Monsenhor Camilo foi um padre que marcou muitas gerações e com suas devoções e ao amor à Igreja, ensinou-nos não só o caminho para o céu, mas a ser um cristão comprometido com a Igreja e a sociedade.
Saudades!

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