Na Santa Casa de São Paulo (3)
E a Santa Casa, de tão má fama, outrora, começa a renascer na estima pública. Os doentes e os pobres retomam novamente o caminho desse caridoso asilo, do qual haviam desertado há muito. O número dos leitos ocupados, que ascendia apenas a seis ou sete, sobe rapidamente a setenta, e maior não se torna por falta de acomodações.
É necessária a construção de um novo prédio, agora no bairro de Santa Cecília. A generosidade com que as principais famílias oferecem seus valiosos donativos atestam bem quanto são reconhecidos o trabalho anônimo e benemerente das incansáveis Irmãs de São José. Só um dos benfeitores subscreveu a apreciável soma de 400 contos de réis, quantia de grande significado na época.
Sobre os primeiros resultados de sua atuação benéfica, no setor hospitalar incipiente de nossa capital, melhor do que nós, fala o exmo. Dr. Caetano de Campos, um dos diretores da casa de saúde, e posteriormente Presidente do Estado:
“Se o pundonor, o brio nacional, o cavalheirismo e a gratidão não são uma mentira para nós brasileiros; se especialmente nós que constituímos a Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, devemos às Irmãs de caridade, em grande parte, o estado relativamente brilhante do nosso hospital; é força confessar que estas distintas senhoras são credoras de atenção de nossa parte. Devemos lembrar-nos que não é o lucro material o que elas aqui vieram buscar; que não é uma vida ociosa, nem mal preenchida o galardão que elas ambicionam; que não é nem o repouso, nem o lucro, nem nenhuma outra vantagem deste gênero o que nós lhe ofertamos em paga dos seus serviços; que, senhora de uma ilustração e educação, acima da ordinária, entregues à proteção única da benemerência dos seus atos, postas no meio de uma classe que não prima comumente nem pela boa educação, nem pelos hábitos de boa vida, ou sequer pelo cuidado do seu corpo e de sua alma, precisam de certo bem estar que as faça esquecer, ao menos, suas próprias necessidades.”
E assim, avante sempre pelos caminhos tortuosos da honra e do dever, vão elas implantando a luz nas consciências, a fé nos corações, a esperança nos desanimados, sem ter em mira as riquezas perecíveis deste mundo. Norteadas somente pelo amor a Deus, vendo no pobre e no infeliz a porção mais querida do rebanho de Cristo, continuam a compor o hino maravilhoso da caridade, e a conquistar para suas almas bem-aventuradas o galardão mais sublime, a paga mais valiosa, o prêmio de um lugar na pátria celeste, onde o Divino Esposo lhes cingirá a fronte com a coroa da imortalidade…
22 de junho de 1957