Solenidade da Ascensão do Senhor
Leituras iniciais da Solenidade da Ascensão do Senhor
Sugerimos que antes de lerem estes comentários, façam as leituras na Bíblia
1ª Leitura (Atos 1, 1-11)
Existe no Monte das Oliveiras um pequeno santuário octogonal, construído pelos cruzados e transformado em mesquita pelos muçulmanos em 1200. Hoje a construção tem um teto, mas originariamente estava descoberto para lembrar a ascensão de Jesus ao céu.
No final do seu Evangelho, Lucas afirma que o Ressuscitado, “enquanto abençoava seus discípulos, separou-se deles e foi arrebatado ao céu”. O que surpreende é a clara divergência em relação à data: conforme Lucas capítulo 24, a Ascenção acontece no mesmo dia da Páscoa, enquanto os Atos (também escrito por Lucas) a desloca para quarenta dias após (Atos 1,3).
A preocupação de Lucas (talvez?) seja outra: quer tirar dúvidas que surgiram nas suas comunidades, quer esclarecer aos cristãos do seu tempo sobre o mistério inefável da Páscoa. Por isso, como escritor extraordinário que é, compõe uma página de teologia utilizando um gênero literário e imagens fáceis de entender por parte dos seus contemporâneos. O primeiro passo a ser dado, portanto, é entender a linguagem usada nesta narrativa.
1 – Expectativas e Desilusões nas Comunidades de Lucas
No tempo de Jesus a expectativa do reino de Deus é muito viva e os escritores apocalípticos o anunciam como iminente; expressões usadas por Jesus podem ser mal entendidas com facilidade: “Não acabareis de percorrer todas as cidades de Israel antes que volte o Filho do Homem” (Mateus 10,23). “Muitos destes que aqui estão não verão a morte sem que tenham visto o Filho do Homem voltar na majestade do seu reino” (Mateus 16,28).
Com a morte do Mestre, porém, todas as esperanças estão desfeitas: “Nós esperávamos que teria sido ele que libertasse Israel” dirão os discípulos de Emaús (Lucas 24,21).
2 – Então Jesus subiu aos céus?
Com certeza, mas afirmar que Jesus subiu aos céus é exatamente afirmar que: ressuscitou, foi glorificado, entrou na glória de Deus, embora os discípulos começaram a entender e acreditar somente a partir do “terceiro dia”.
A narração de Lucas é uma página de teologia, não uma notícia sobre acontecimentos extraída de um jornal. Lucas nos ensina que Jesus atravessou por primeiro “o véu do templo”, que separava o mundo dos homens daquele de Deus; mostrou que tudo que acontece na terra: sucessos e desventuras, injustiças, sofrimentos e até os fatos mais absurdos, como a morte ignominiosa, não estão fora dos projetos de Deus.
2ª Leitura (Efésios 1, 17-23)
Paulo pede a Deus a sabedoria para os seus cristãos. Não se trata de uma sabedoria humana, mas da inteligência para compreender o mistério da Igreja. Pede a Deus para iluminar seus olhos e seus corações, a fim de entenderem quão grande é a esperança para a qual foram chamados.
A primeira leitura convida os cristãos a não descuidar dos deveres concretos deste mundo (seus olhos). A segunda leitura completa este pensamento e exorta os cristãos a não esquecer que a vida deles não está limitada aos horizontes deste mundo (seus corações).
Embora comprometidos nas atividades desta vida, eles se sentem sempre como estrangeiros à espera que Cristo venha buscá-los para ficarem com ele para sempre.