Heroísmo nas epidemias (1)
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Meu bondoso ouvinte! Na continuação desta evocação centenária, em que a figura hercúlea da Madre Teodora tem desfilado aos nossos olhos, revestida das virtudes e qualidades que, aos poucos, vamos descobrindo em sua pessoa, analisá-la-emos através do prisma da caridade, um dos traços mais nitidamente marcantes de sua personalidade de escol.
Missionária dos corpos e das almas, desde jovenzinha já se sentia atraída pela beleza dessas virtudes.
Com Santo Agostinho, aprende ela que “não há caminho mais seguro para se chegar ao amor de Deus do que a caridade para com os nossos semelhantes.”
Logo nos primeiros anos de sua vida religiosa, num heroísmo sobre-humano, oferece-se à Superiora, pedindo que a deixe seguir para Cognin, aldeia próxima a Chambéry, a fim de cuidar de doentes atacados de colera morbus. Terrível epidemia dessa doença, em 1854, ameaça exterminar os habitantes da Saboia. É incalculável o número de suas vítimas. Em meio a grande consternação, cidades inteiras são presas ao flagelo.
Madre Teodora, antes de seguir, prostra-se aos pés do Divino Crucificado, arrancando-lhe forças para tão arriscada e temível empresa. Ao seu lado, Madre Felicidade, Superiora geral, volta-se para o Coração de Jesus, fazendo-lhe voto de celebrar perpetuamente, no Instituto, como festa de preceito a data consagrada ao seu culto, se Ele, em sua infinita bondade, preservar as Irmãs do mortífero contágio.
Confia as religiosas aos cuidados do Revmo. Padre Fasi, que as orienta com prudentes conselhos e as previne sobre o terreno que devem palmilhar.
A valorosa enfermeira e sua companheira, Irmã Júlia da Anunciação, entregam-se com ardor à faina enobrecedora de arrancar vítimas ao império da morte, ou então prepará-las para a viagem sem volta.
Quanta violência para vencer as repugnâncias, o medo, e correr, sempre prontas, para onde as chama o dever! Passam o dia em um vaivém estafante, e, vinda a noite, em vez do repouso reconfortante, sua imaginação reproduz, em forma espantosa, os horrores presenciados durante a jornada.
Como se isso não bastasse, conta depois Madre Teodora – “mau grado o nosso medo, para nos abastecermos de água, tínhamos de atravessar um vasto salão, onde se colocavam os cadáveres dos colerosos mortos durante a noite”.
A vontade de se dedicarem aos infelizes flagelados leva-as ao máximo. Esses desgraçados são almas remidas pelo sangue de Cristo, são criaturas necessitadas do conforto de uma assistência amiga; portanto, tudo nelas é desprendimento, é abnegação em favor dos miseráveis…

18 de maio de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu da Música – Itu