O dom da palavra
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Sabemos que o Padre Bartolomeu Taddei foi um orador notável e este é, dentre os seus dons de santidade, o principal: a capacidade de falar de Deus e interferir positivamente na vida das pessoas a caminho da conversão, da mudança de vida. O gesto de apontar aos irmãos a riqueza da espiritualidade diária mudou a história da Igreja no Brasil e a trajetória de boa parte dos brasileiros que o conheceram como missionário.
Taddei não estava preocupado em escrever a história, mas em fazê-la, por isso não há registro escrito de seus sermões. Ele se preparava e falava de improviso, sem anotações. O que temos são as impressões daqueles que o ouviram, sobretudo os seus companheiros de missões que admiravam a palavra sábia.
Giomini que participou de dezenas de missões com Taddei, escreveu que ele “pregava com grande veemência e com eloquência não menor; tanto que o saudoso P. Antonio Onorati, juiz bem competente na matéria, costumava dizer que não conhecia quem tivesse dotes oratórios iguais aos do Pe. Taddei”. Em outra oportunidade o mesmo sacerdote jesuíta revelou que ele: “comovia o povo: e uma vez no sermão sobre o amor dos inimigos, houve quem, estando no fundo de uma vastíssima igreja apinhada de gente, e não podendo conter-se mais, debulhado em lágrimas, pediu em voz alta perdão ao seu inimigo, que se achava na outra extremidade da igreja ao pé do altar mor.”
Taddei veio trabalhar em um país em que era enorme a ignorância religiosa. O próprio clero tinha dificuldade com a doutrina porque os seminários diocesanos os preparavam mais para serem funcionários públicos do que teólogos.
Padre Aristides Greve, autor do livro “Padre Bartolomeu Taddei, apóstolo do Coração de Jesus no Brasil” destinou um capítulo para relatar as pregações do padre santo de Itu; computou duzentas grandes missões de sete a quinze dias e cem visitas a centros do Apostolado da Oração. Anotou cento e vinte e cinco grandes sermões pregados em diversas cidades do Brasil. Trata ainda de quarenta e tantos retiros em várias regiões, seja ao clero das dioceses ou para religiosos e religiosas em conventos. Anotou onze vezes que Taddei pregou o “Mês de Maria”, dedicando todas as noites de maio a sermões sobre a Mãe de Jesus.
Como extraordinário da palavra Taddei lapidou sua formação, mas era dele a escolha em servir, fazer-se de instrumento de Deus entre as pessoas. Em quarenta e oito anos no Brasil construiu uma comunicação viva e de enorme militância que contagiou outros missionários e padres do clero secular para também servirem no ministério da oratória.
Especiais eram as Semanas Santas. Em Itu e outras cidades o padre Taddei pregava sermões longos no Lava-pés, à entrada das procissões e nas Sete Palavras, verdadeiras lições de doutrina. Ao subir aos púlpitos, falava de um Coração redentor que tanto amou a humanidade e que permanece vivo zelando por nós.

Luís Roberto de Francisco Biblioteca Histórica
“Padre Luiz D’Elboux”