Papa Francisco: “não marginalizar os idosos, mas crescer juntos com paciência e respeito”
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Neste 3º Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, o Papa Francisco faz um forte apelo para vigiarmos o nosso dia a dia, em casa e no trabalho, para “não marginalizar os mais velhos. Estejamos atentos para que as nossas cidades superlotadas não se tornem ‘concentrados de solidão’”. Através das três parábolas do Evangelho deste domingo (23/07), o Papa exorta a dar prioridade na nossa agenda aos avós: “por favor, misturemo-nos, cresçamos juntos”, jovens e idosos, “o Senhor abençoará o nosso caminho.”

Cerca de 8 mil fiéis lotaram a Basílica de São Pedro para honrar “o tempo abençoado da velhice”, como o próprio Papa Francisco enalteceu em homilia. O Pontífice refletiu sobre as três parábolas do Evangelho do dia (cf. Mt 13,24-43) a partir de um aspecto em comum entre elas, ou seja, o “crescer juntos”.

O bem e o mal devem crescer juntos

Na primeira história simples – que chega logo “ao coração de quem escuta” como se fosse aquela conversa cheia de imagens que os avós usam com sabedoria com os netos – o Papa procurou descrever a história da humanidade. Afinal, assim como o trigo e o joio crescem juntos no campo, na vida de cada pessoa coexistem o bem e o mal, tanto fora como dentro da gente:

Animado pela esperança de Deus, o cristão não é um pessimista nem um ingênuo que vive no mundo das fábulas, finge não ver o mal e diz que ‘tudo corre bem’. Não, o cristão é realista: sabe que no mundo há trigo e joio e, ao olhar para dentro de si, reconhece que o mal não vem só ‘de fora’ nem é sempre culpa dos outros, e não é preciso ‘inventar’ inimigos para combater, a fim de evitar que se faça luz no seu interior.

Mas a parábola nos coloca um questionamento, advertiu o Papa: quando o bem e o mal convivem, o que devemos fazer? Certamente não ser impulsivos, como os servos que queriam arrancar o joio (cf. 13, 28), tirando o mal para salvar a pureza da sociedade e da própria Igreja. Desse modo, “junto com o joio, arranca-se também o bom grão”, e Jesus nos pede ao contrário, para fazer crescê-los juntos até a colheita, “acolhendo o mistério da vida com serenidade e paciência”, como um chamado para fazermos igual com os idosos e avós:

Como é belo este olhar de Deus, esta sua pedagogia misericordiosa, que nos convida a ter paciência com os outros, a acolher – em família, na Igreja e na sociedade – fragilidades, atrasos e limites: não para nos habituarmos resignadamente a eles nem para os justificar, mas para aprendermos a intervir com respeito, continuando a cuidar do bom grão com mansidão e paciência.

O ninho dos avós que abraça filhos e netos

Ao abordar a segunda parábola, do minúsculo grão de mostarda que ao crescer torna-se uma árvore frondosa, o Papa novamente recorda dos idosos: vieram ao mundo pequeninos como uma pequena semente que, “alimentando-se de esperanças e realizando projetos e sonhos”, tornou-se uma árvore “que não vive para si mesma, mas para dar sombra a quem a deseja e dar espaço a quem quer construir o ninho”.

Penso nos avós: como são belas estas árvores frondosas, sob as quais filhos e netos constroem os seus ‘ninhos’, aprendem o clima de casa e experimentam a ternura de um abraço. Trata-se de crescer juntos: a árvore verdejante e os pequeninos que precisam do ninho, os avós com os filhos e os netos; os idosos com os mais jovens. Precisamos de uma nova aliança entre jovens e idosos, para que a seiva de quem tem uma longa experiência de vida umedeça os rebentos de esperança de quem está a crescer. Neste fecundo intercâmbio, aprendemos a beleza da vida, construímos uma sociedade fraterna e, na Igreja, permitimos o encontro e o diálogo entre a tradição e as novidades do Espírito.

Não marginalizar os mais velhos

Finalmente o Papa trouxe para reflexão a terceira parábola, na qual os que crescem juntos são o fermento e a farinha (cf. Mt 13, 33). “Essa mistura faz crescer toda a massa. Jesus usa precisamente o verbo ‘misturar'”, disse Francisco, ao sugerir a arte de viver juntos e de «sair de si mesmo para se unir aos outros» (FRANCISCO, Exort. ap. Evangelii gaudium, 87), vencendo “os individualismos e os egoísmos e ajudando-nos a gerar um mundo mais humano e fraterno”:

Assim, hoje a Palavra de Deus é um apelo a vigiar para que, nas nossas vidas e famílias, não marginalizemos os mais velhos. Estejamos atentos para que as nossas cidades superlotadas não se tornem ‘concentrados de solidão’. […] Por favor, misturemo-nos, cresçamos juntos.

Irmãos, irmãs, a Palavra de Deus convida a não separarmos, a não nos fecharmos, a não pensarmos que é possível fazer tudo sozinhos, mas a crescer juntos. Ouçamo-nos, conversemos, apoiemo-nos uns aos outros. Não esqueçamos os avós e os idosos: graças ao seu carinho muitas vezes nos levantamos, retomamos o caminho, sentimo-nos amados, fomos curados interiormente. Sacrificaram-se por nós e nós não podemos apagá-los das prioridades da nossa agenda. Cresçamos juntos, avancemos em conjunto: o Senhor abençoará o nosso caminho.

(Fonte: Vatican News)

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