A luta pela fé em Itu
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Quando olhamos a vida de um santo muitas vezes não nos damos conta das dificuldades pelas quais ele passa em sua luta pela defesa da fé, justamente o que lhe confere a qualidade heroica de santidade. Com o nosso padre Bartolomeu Taddei não foi diferente. Em todo o seu tempo de missionário, se por um lado foi muito bem recebido nas comunidades católicas, por outro passou dissabores e enfrentou provocação e difamação dos livres pensadores.

Geralmente esses anticlericais eram intelectuais educados em escolas não católicas ou adeptos da Maçonaria; advogados, médicos, farmacêuticos ou comerciantes, consideravam a vida religiosa uma perda de tempo. Geralmente viviam sob a inspiração do Iluminismo francês, valorizando muito o progresso material, o enriquecimento pessoal, a fortuna vinda do trabalho. Ajudavam obras sociais e de alfabetização. Em Itu, por exemplo, houve um núcleo muito forte de anticlericais que abominavam a oração e os sacramentos, aos quais não atribuíam qualquer utilidade, pois viviam para o trabalho, o divertimentos e a jogatina. Mantinham clubes de homens ou para frequência de famílias, promovendo bailes e festividades muito apreciadas por pessoas da elite local.

Aqui em Itu o padre Taddei enfrentou um jornal muito politizado, com escritores que criticavam a vida de clausura das Irmãs do Conventinho, dirigidas por ele. A difamação do periódico República foi pesada. Escrevia que o Padre Santo de Itu e outros Jesuítas não eram mestres, no Colégio São Luís, mas doutrinadores de uma religião punitiva, que não ensinava a liberdade de conhecer o mundo pelas luzes da razão. Acusava-os de iludir o povo com água de Lourdes, justamente quando essa devoção tinha tanta influência espiritual por aqui.

Desde a chegada de Taddei a Itu, em 1865, esses políticos liberais anticlericais cuidaram de disseminar fofocas, inclusive para tentar indispor o pároco, padre Miguel Correia Pacheco com os jesuítas. Francisco Nardy Filho, biógrafo deste sacerdote, relata as dificuldades daquele tempo e os dissabores provocados pela difamação. Foi preciso haver uma defesa pública dos jesuítas, publicada em diversas edições do semanário A Esperança, em 1867 dirigido pelo jornalista Joaquim Leme de Oliveira César.

Em 1873, época da Convenção de Itu, novamente vieram os enfrentamentos. Alguns dos participantes dessa reunião política eram claramente contrários ao modelo de educação do Colégio São Luís e do catecismo e das irmandades organizadas pelos padres na igreja do Bom Jesus. Diversas vezes promoveram reuniões públicas organizando conferências a bem da humanidade e contra a educação católica. O Clube Republicano de Itu montou uma escola para moços pobres e escravos a fim de competir com a formação para órfãos do São Luís. Os principais defensores desse pensamento anticlerical eram João Tibiriçá Piratininga e Antonio Francisco de Paula Souza, que estudaram na França e tiveram grande influência do pensamento iluminista.

Na próxima semana veremos como o padre Taddei conseguiu formar um grupo coeso em torno da imprensa, que fez nascer o jornal A Federação em Itu, em 1905.

Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”