Um testemunho sobre o padre santo de Itu
Cronista da história de Itu e que bem conheceu o padre Bartolomeu Taddei foi o maestro Tristão Mariano da Costa. Professor no Colégio São Luís por décadas, assistiu à inauguração desse prestigioso educandário, em 1867 e, daquele tempo já guardava excelente impressão do bom missionário.
Tristão Mariano vivia a poucos metros da igreja do Bom Jesus, frequentava assiduamente as cerimônias da comunidade onde foi membro do Apostolado da Oração. Além da sua atividade como compositor, regente de coro e orquestra, ele escrevia assiduamente para jornais de Itu. Quando foi fundado o nosso “A Federação”, registrou impressões da cidade, da vida religiosa e crônicas históricas em muitas edições desta folha católica.
Em 1903 coligiu memórias sobre o Colégio São Luís em três cadernos, cuja transcrição foi feita na década de 1960 pelo P. Pedreira de Castro. Tive a oportunidade de encontrar esse relato importante sobre a história da educação em Itu e transcrevê-lo, em 2017. A “Breve História do Colégio São Luís” foi publicada por ocasião do sesquicentenário dessa escola, pela Biblioteca Histórica da Igreja do Bom Jesus. Extraímos dela um trecho em que Tristão Mariano nos conta com detalhes o que foi a epidemia em Itu e o papel dos Jesuítas: “Na medonha epidemia de febre amarela que assolou esta cidade em 1892, fomos testemunhas oculares dos prodígios e abnegação caridosa que fez o Padre Taddei e seus dignos Irmãos Padre Pedro Mateucci, Padre Mário, Padre Aragnetti, Padre Prosperi, Padre Aureli e outros que nos falha a memória. Conseguiu estabelecer um depósito de gêneros alimentícios, que vinham da capital e de outros lugares, para socorrer não só as famílias dos doentes pobres como daqueles que estavam sem recursos para manter-se aqui nesta cidade, com falta de trabalho, sem meios de ausentar-se. Nós, forçados pelo número de doentes da nossa família, aqui ficamos e presenciamos os horrores de uma peste. Porém, como era consolador ver-se quando todos fugiam da peste, ficar o Padre Jesuíta, como soldado valente, que não recua diante da morte por amor de seu próximo, levando de porta em porta os socorros materiais e animando os enfermos para uma morte cristã! Nestas ocasiões onde estão os positivistas, os amigos da humanidade, os homens de espírito forte, que não são carolas, que só falam em liberdade, igualdade e fraternidade?”
O velho maestro ituano faz menção ao heroísmo dos Jesuítas que, àquele tempo, eram muito criticados pelos livre pensadores e anticlericais. Em outro trecho do seu precioso trabalho, Tristão lembra que outra vítima da epidemia foi o professor de música do Colégio e compositor José Mariano da Costa Lobo, seu sobrinho que morreu aos trinta e cinco anos, deixando viúva e cinco filhos órfãos. Também José Mariano, membro do Apostolado, foi assistido pelo padre Taddei em seu leito de morte.
Eis aqui outros relatos de uma trajetória notável.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”