Mês Missionário: deixar-se sempre fortalecer e guiar pelo Espírito
Compartilhe

Em sua mensagem para o Dia Mundial das Missões 2022, o Papa Francisco destaca os três fundamentos da vida e da missão dos discípulos. Nesta edição, vamos abordar o terceiro e último deles: “Recebereis a força do Espírito Santo”.

Ao anunciar aos discípulos a missão de serem suas testemunhas, Cristo ressuscitado prometeu também a graça para uma tão grande responsabilidade: “Recebereis a força do Espírito Santo e sereis minhas testemunhas” (At 1, 8). Segundo a narração dos Atos, precisamente depois da descida do Espírito Santo sobre os discípulos de Jesus, realizou-se a primeira ação de dar testemunho de Cristo, morto e ressuscitado, com um anúncio querigmático: o chamado discurso missionário de São Pedro aos habitantes de Jerusalém. Assim começa a Era da Evangelização do mundo por parte dos discípulos de Jesus. Antes eram fracos, medrosos, fechados. O Espírito Santo os fortaleceu, deu-lhes coragem e sabedoria para dar testemunho de Cristo diante de todos.

Como “ninguém pode dizer: ‘Jesus é o Senhor’ senão pela ação do Espírito Santo” (1 Cor 12, 3), nenhum cristão pode dar testemunho pleno e genuíno de Cristo Senhor sem a inspiração e a ajuda do Espírito Santo. Desse modo, cada discípulo missionário de Cristo é chamado a reconhecer a importância fundamental da ação do Espírito Santo, a viver com Ele no cotidiano, a receber constantemente Sua força e inspiração. Por certo, quando nos sentirmos cansados, desmotivados, perdidos, lembremo-nos de recorrer ao Espírito Santo na oração, a qual – quero enfatizar mais uma vez – tem um papel fundamental na vida missionária, para nos deixarmos restaurar e fortalecer por Ele, a fonte divina inesgotável de novas energias e da alegria de partilhar a vida de Cristo com os outros. “Receber a alegria do Espírito é uma graça. E é a única força que podemos ter para pregar o Evangelho, confessar a fé no Senhor” (Francisco, Mensagem às Pontifícias Obras Missionárias, 21/5/2020). Assim, o Espírito Santo é o verdadeiro protagonista da missão: Ele é quem dá a palavra certa no momento justo e sob a devida forma.

Também à luz da ação do Espírito Santo queremos vivenciar os aniversários missionários deste 2022. A instituição da Sagrada Congregação de Propaganda Fide, em 1622, foi motivada pelo desejo de promover o mandato missionário em novos territórios. Uma intuição providencial! A Congregação mostrou-se decisiva para que a missão evangelizadora da Igreja fosse verdadeiramente livre, isto é, independente da interferência dos poderes mundanos, a estabelecer aquelas Igrejas locais que hoje mostram tanto vigor. Esperamos que, à semelhança dos seus últimos quatro séculos, a Congregação, com a luz e a força do Espírito Santo, continue e intensifique o seu trabalho de coordenar, organizar e animar as atividades missionárias da Igreja.

O mesmo Espírito, que guia a Igreja universal, inspira também homens e mulheres simples para missões extraordinárias. E foi assim que uma jovem francesa, Pauline Jaricot, há exatamente 200 anos, fundou a Associação para a Propagação da Fé, com sua beatificação celebrada neste ano jubilar. Embora em condições precárias, ela acolheu a inspiração de Deus e colocou em movimento uma rede de oração e coleta para os missionários, de modo que os fiéis pudessem participar ativamente na missão “até os confins do mundo”. Dessa ideia genial, nasceu o Dia Mundial das Missões, que celebramos todos os anos, e cuja coleta em todas as comunidades se destina ao fundo universal com o qual o Papa apoia a atividade missionária pelo mundo.

Nesse contexto, recordo também o Bispo francês Charles de Forbin-Janson, que iniciou a Obra da Santa Infância para promover a missão entre as crianças com o lema “As crianças evangelizam as crianças, as crianças rezam pelas crianças, as crianças ajudam as crianças de todo o mundo”. E ainda a senhora Jeanne Bigard, que deu vida à Obra de São Pedro Apóstolo para apoiar seminaristas e sacerdotes em terras de missão. Três obras missionárias reconhecidas como “pontifícias” há exatamente cem anos. Foi também sob inspiração e orientação do Espírito Santo que o Beato Paolo Manna, nascido há 150 anos, fundou a atual Pontifícia União Missionária, a fim de sensibilizar e animar sacerdotes, religiosos e religiosas e todo o povo de Deus para a missão. Dessa última Obra, fez parte o próprio São Paulo VI, que confirmou seu reconhecimento pontifício. Menciono essas quatro Obras Missionárias Pontifícias pelos seus grandes méritos históricos e para convidá-los a se alegrar com elas neste ano especial, pelas atividades realizadas em apoio à missão evangelizadora na Igreja universal e nas Igrejas locais. Espero que as Igrejas locais encontrem, nessas Obras, um instrumento seguro para alimentar o espírito missionário no Povo de Deus.

Queridos irmãos e irmãs, continuo a sonhar com uma Igreja totalmente missionária, com um novo tempo de ação missionária entre as comunidades cristãs. Repito o grande desejo de Moisés para o povo de Deus a caminho: “Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta” (Nm 11, 29). Sim, oxalá todos nós sejamos na Igreja o que já somos em virtude do Batismo: profetas, testemunhas, missionários do Senhor! Com a força do Espírito Santo e até os confins do mundo. Maria, Rainha das Missões, rogai por nós!