Política, democracia e eleições
Dom Wilson Angotti
Bispo de Taubaté (SP)
Em nosso País, estamos vivendo mais um processo eleitoral; esse período nos leva a refletir e a discutir sobre o que precisamos e o que queremos para nossa vida em sociedade. Não pode ser só em época de eleições que se deva pensar em política, democracia, candidatos, propostas e outros assuntos relacionados, porém, nessa oportunidade, com mais razão, essas questões devem ser consideradas por todos. É isso que, muito brevemente, pretendo abordar.
A política e sua finalidade – A palavra “política” vem da língua grega e é composição de dois termos: “polis” que significa cidade e “tikós” que se refere ao bem comum. Assim sendo, pela própria etimologia da palavra já é possível entender que política é a arte de organizar a sociedade, em vista ao bem comum. Nesse sentido, a política é a mais sublime maneira de exercer a caridade. Esta expressão foi pronunciada pelo Papa Pio XI, reforçada por São Paulo VI e recentemente retomada e exemplificada pelo Papa Francisco na Fratelli Tutti (n.182). O bem comum é o princípio, porém, nem sempre a política é conduzida com esse propósito. Desvirtua o ideal da política toda disposição que tenha em vista interesses egoístas, pessoais ou de um pequeno grupo de privilegiados, menosprezando ou mesmo ignorando o que seria bem comum. São as políticas públicas que determinam como serão tratadas questões como: emprego, moradia, saneamento básico, saúde, educação, transporte público, conservação ambiental, preço dos alimentos, etc. Quem ignora ou se exime da política sofre as consequências de sua indiferença, pois outros definirão sem que suas necessidades sejam consideradas. Quanto mais organizada e politizada for uma sociedade, mais os recursos serão investidos para as reais necessidades da população. Quando o povo não se organiza em entidades representativas e não atua politicamente, cria-se ocasião para que oportunistas utilizem os recursos públicos para finalidades que não atendem senão aos seus próprios interesses. A verdadeira política, que tem em vista o bem comum, só ocorre quando a sociedade se organiza e exige seus direitos. Participar das reuniões de pais numa escola, de um conselho no município, de um partido político, de uma comissão que reivindica saneamento básico, etc. é fazer política. Quem não se envolve com a política deixa outros conduzirem seu destino.
A democracia – é o regime político ou de governo em que o poder é exercido pelo povo. Na democracia as decisões políticas devem estar em conformidade com o que o povo deseja. A palavra democracia também tem origem no grego e é composta por “demos”, que significa “povo” e “kratos” que significa “poder” ou “forma de governo”. Neste sistema político, os cidadãos tem direito à participação política. A democracia garante a liberdade individual (contanto que não fira a liberdade do outro), garante a liberdade de opinião e expressão e a liberdade de eleger seus representantes.
A livre escolha de governantes pelos cidadãos através de eleições diretas ou indiretas é um dos principais aspectos que caracterizam a democracia. A democracia pode ser direta, participativa ou representativa. No Brasil temos a democracia representativa. Os cidadãos são os detentores do poder e confiam parte desse poder a seus representantes escolhidos com a incumbência de organizar a vida em sociedade. A ditadura é um dos regimes não democráticos ou antidemocráticos, em que o povo não tem direito a participar das decisões. A ditadura é regida por uma pessoa ou um grupo político sem participação popular ou com participação muito restrita. Na encíclica Centesimus Annus (n.46), o papa São João Paulo II manifesta explicitamente a simpatia da Igreja pela democracia enquanto esta assegura a participação dos cidadãos nas opções políticas e garante escolher e controlar os governantes, assim como substituí-los pacificamente.
As eleições – são a oportunidade em que o povo tem para manifestar sua opinião em um projeto de governo e para escolher seus governantes. As eleições são um exercício de cidadania e ação política que têm repercussão direta na vida de cada pessoa e da sociedade. Por isso, é tão importante escolher bem os candidatos que exercerão o poder legislativo (nas câmaras municipais, assembleias estaduais ou federal e no senado), assim como os que exercerão o poder executivo (prefeitos, governadores e presidente). A boa escolha de candidatos não é tão simples, pois envolve conhecer suas propostas, sua prática, seus compromissos partidários, os grupos que os financiam, etc. Em geral, muitas pessoas escolhem movidas por simpatia, por paixão, depois buscam motivos para justificar sua escolha.
Fazem o caminho inverso do que deveria ser feito e, assim, escolhem mal. Para uma escolha minimamente razoável se faz necessário: ouvir as propostas dos candidatos e dos partidos; acompanhar os debates onde há confronto e não só as propagandas partidárias; comparar o preparo e as propostas de cada um; ouvir não só o candidato preferido ou escolhido; considerar o que dizem os analistas, pois os candidatos podem prometer o que não terão condições de cumprir; acolher as notícias divulgadas pela grande imprensa e não, ingenuamente, acreditar no que é divulgado sem ter comprovação. Esses são apenas alguns critérios básicos para uma escolha consciente. Veja que não é tão fácil escolher um candidato.
Vote bem. Lembre-se que voto não tem preço, tem consequências.