O Concílio e a Igreja “mãe amorosa de todos”
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“A Igreja Católica, levantando através deste Concílio Ecumênico o facho da verdade religiosa, deseja mostrar-se mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade…”. Sessenta anos se passaram desde que João XXIII inaugurou o Concílio Ecumênico Vaticano II. Com um discurso de 37 minutos, em latim, em 11 de outubro de 1962, o idoso pontífice, diante do espetáculo de 2449 bispos reunidos e uma imensa multidão que os tinha visto desfilando na longa procissão na Praça São Pedro, realizou um sonho e uma inspiração tenazmente perseguida. 

Papa João XXIII na assinatura da Bula de Proclamação do Concílio em 25 de dezembro de 1961 (Archivio Fotografico Vatican Media)
João XXIII não pôde levar ao porto o navio que naquele dia partia para o mar. Somente ele, com o passo calmo e decisivo de camponês e a capacidade de captar os aspectos positivos dos sinais dos tempos, tinha sido capaz de ir tão longe, tomando uma decisão a que seus antecessores haviam renunciado. Somente ele poderia abrir o Concílio. E somente seu sucessor Paulo VI poderia completar os trabalhos do Concílio Vaticano II, conseguindo o milagre de ter todos os documentos conciliares votados quase por unanimidade. Na década seguinte Paulo VI sofreria – a década da contestação interna e das divisões – o “martírio da paciência” para manter estável o leme do barco de Pedro, de modo a evitar que encalhasse nas águas rasas por causa de empurrões para trás ou batesse nas rochas por causa de fugas incontroladas para a frente.

Sessenta anos depois, aquele caminho ainda não terminou. O Papa Francisco, o primeiro entre os sucessores de Pedro no último meio século a não ter vivido diretamente esse acontecimento como padre conciliar ou como teólogo, percorre concretamente suas trilhas. Ele o faz lembrando que o único objetivo para o qual a Igreja existe é o anúncio do Evangelho às mulheres e aos homens de hoje.

O magistério do atual Bispo de Roma se reflete nas palavras pronunciadas precisamente há sessenta anos pelo Papa João XXIII: dar testemunho do rosto de uma Igreja que é “a mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia”, isto é, capaz de proximidade e ternura, capaz de acompanhar os que estão na escuridão e na necessidade. Uma Igreja que não confia só em si mesma e não persegue o poder mundano ou o destaque da mídia, mas humildemente se coloca atrás de seu Senhor, confiando somente n’Ele.