Mês Missionário: o chamado a todos os cristãos para testemunhar Cristo
Em sua mensagem para o Dia Mundial das Missões 2022, o Papa Francisco destaca três expressões-chave que resumem os três fundamentos da vida e da missão dos discípulos. Nesta edição, vamos abordar o primeiro deles: “Sereis minhas testemunhas”.
1. “Sereis minhas testemunhas” – O chamado de todos os cristãos a testemunhar Cristo
É o ponto central, o coração do ensinamento de Jesus aos discípulos em vista de sua missão no mundo. Todos os discípulos são testemunhas de Jesus graças ao Espírito Santo que recebem: serão constituídos como tal pela graça. Por onde forem, onde quer que estejam. Assim como Cristo é o primeiro enviado, isto é, missionário do Pai (cf. Jo 20,21) e, como tal, é a sua “testemunha fiel” (cf. Ap 1,5), assim cada cristão é chamado a ser missionário e testemunha de Cristo. E a Igreja, comunidade dos discípulos de Cristo, não tem outra missão senão a de evangelizar o mundo, de ser testemunho de Cristo. A identidade da Igreja é evangelizar.
Uma leitura geral mais profunda esclarece alguns aspectos que são sempre atuais para a missão confiada por Cristo aos discípulos: “Vocês serão minhas testemunhas”. A forma plural enfatiza o caráter comunitário-eclesial do chamado missionário dos discípulos. Todo batizado é chamado à missão na Igreja e por mandato da Igreja: portanto, a missão se realiza em conjunto e não individualmente, em comunhão com a comunidade eclesial e não por iniciativa própria. E mesmo que alguém, em alguma situação muito particular, desempenhe a missão evangelizadora sozinho, ele a realiza e deve sempre realizá-la em comunhão com a Igreja que lhe enviou. Como ensinou São Paulo VI na Exortação Apostólica Evangelii Nuntiandi, documento que tenho muito apreço: “A Evangelização nunca é para ninguém um ato individual e isolado, mas profundamente eclesial. Quando o mais desconhecido pregador, catequista ou pároco, no lugar mais remoto, prega o Evangelho, reúne sua pequena comunidade ou administra um sacramento, ou mesmo que esteja sozinho, realiza um ato da Igreja, e seu gesto está certamente ligado a relações institucionais, mas também por laços invisíveis e raízes profundas da ordem da graça, à ação evangelizadora de toda a Igreja” (nº 60). De fato, não é coincidência que o Senhor Jesus enviou seus discípulos em uma missão dois a dois; o testemunho dos cristãos a Cristo tem um caráter principalmente comunitário. Daí a importância essencial da presença de uma comunidade, mesmo pequena, no cumprimento da missão.
Além disso, é pedido aos discípulos para construírem a sua vida pessoal em chave de missão: são enviados por Jesus ao mundo não só para cumprir a missão, mas também e por precedente, viver a missão que lhes foi confiada; não só para dar testemunho, mas também e sobretudo para ser testemunhas de Cristo. Como diz o apóstolo Paulo, com palavras verdadeiramente comoventes: “Levar sempre, e em todo lugar, a morte de Jesus em nosso corpo, para que também a vida de Jesus se manifeste em nós” (2 Cor 4, 10). A essência da missão é dar testemunho de Cristo, isto é, sua vida, paixão, morte e ressurreição por amor ao Pai e à humanidade. Não é por acaso que os Apóstolos buscaram o substituto de Judas entre aqueles que, como eles, testemunharam a Ressurreição (cf. At 1, 22). É Cristo, e o Cristo ressuscitado, Aquele que devemos testemunhar e cuja vida devemos partilhar. Os missionários de Cristo não são enviados para se comunicar entre si, para mostrar suas qualidades, suas habilidades persuasivas ou gerenciais. Em vez disso, têm a honra sublime de oferecer Cristo, em palavras e obras, a anunciar para todos a Boa Nova da salvação com alegria e ousadia, como fizeram os primeiros apóstolos.
Portanto, em última análise, a verdadeira testemunha é o “mártir”, aquele que dá a vida por Cristo, retribuindo o dom que Ele nos deu de si mesmo. “A primeira motivação para evangelizar é o amor de Jesus que recebemos, a experiência de sermos salvos por Ele que nos leva a amá-lo cada vez mais (Evangelii Gaudium, 264).
Finalmente, a propósito do testemunho cristão, permanece sempre válida a observação de São Paulo VI: “O homem contemporâneo escuta com mais boa vontade as testemunhas do que os mestres, ou então se escuta os mestres o faz porque eles são testemunhas” (Evangelii Nuntiandi, 41). Assim, é fundamental, para a transmissão da fé, o testemunho de vida evangélica dos cristãos. Por outro lado, continua igualmente necessária a tarefa de anunciar a pessoa de Jesus e a sua mensagem. O próprio Paulo VI diz: “Sim! A pregação, a proclamação verbal de uma mensagem, permanece sempre indispensável (…). A palavra continua a ser sempre atual, especialmente quando transmite a força divina. Por esse motivo, permanece atual o axioma de São Paulo: “A fé vem da pregação” (Rom 10, 17). É precisamente a Palavra ouvida que nos leva a crer” (Ibid., 42).
Na Evangelização, portanto, caminham juntos o exemplo de vida cristã e o anúncio de Cristo. Um serve ao outro. São os dois pulmões com os quais cada comunidade deve respirar para ser missionária. O testemunho completo, coerente e alegre de Cristo é certamente a atração para o crescimento da Igreja também no terceiro milênio. Por isso, exorto todos a recuperar a coragem, a franqueza, aquela ousadia dos primeiros cristãos, para testemunhar Cristo, com palavras e obras, em todos os ambientes da vida.
(Fonte: Vatican News)