Sobre eleições e escolhas
por Celso Tomba
Como é difícil fazer escolhas…
Outro dia mesmo, escrevia aqui sobre as escolhas que fazemos em nossas vidas, nas grandes decisões que definem nosso caminho vocacional. Mesmo confiando no chamado de Deus, a escolha é nossa, pessoal. Carece de discernimento que só se completa quando o chamado de Deus, ouvido em oração contínua, ecoa em nossas vidas, em nossa realidade. Afinal, não somos chamados para uma vida fora da nossa realidade. Ao contrário, somos chamados para vivermos inseridos em nossa realidade, para nela vivermos os valores do Evangelho e nela realizarmos o plano que Deus tem para nós.
Não há como compreender o chamado de Deus sem nossa existência real, concreta. Somos filhos de Deus vivendo este momento da história, neste espaço geográfico e com as características individuais que possuímos. Essa é a nossa realidade e é nela que o chamado de Deus precisa encontrar eco.
E, como sempre, Deus nos chama mas espera que cada um de nós responda do seu jeito, no seu tempo. Podemos ouvir conselhos, orientações e até mesmo “determinações” de outras pessoas. Mas Deus deixa claro que somos livres para decidir e escolher. Ele respeita nossas limitações e nossas escolhas, e, acima de tudo, continua nos amando como seus filhos.
Chegando perto de um importante momento de escolha para nossas vidas e a vida da sociedade brasileira, precisamos lembrar desses importantes apontamentos.
Ao exercermos nosso direito ao voto, estamos fazendo escolhas. Dentro de um universo de pessoas, grupos, propostas, ideias, visões de mundo e tantos outros aspectos, procuramos identificar aqueles candidatos que, acreditamos, farão o melhor pelas pessoas, por nossa sociedade.
Como em tantas outras escolhas, precisamos discernir, com a ajuda de Deus, qual é o melhor caminho, a melhor opção. Podemos receber orientações, ouvir conselhos, mas a decisão final é responsabilidade nossa. Como cristãos, temos um compromisso com os valores do Evangelho, que deixam claros os princípios que devemos seguir em nossas atitudes, mas não determinam nossas escolhas diante da realidade que vivemos. Essa é uma tarefa de cada um de nós.
A Igreja, há muito tempo, tem se pronunciado sobre o tema. Em escritos mais recentes, deixa claro que “não se identifica com nenhuma ideologia ou partido político” (56ª Assembleia Geral, Mensagem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil ao Povo de Deus, Aparecida, 2018). A Igreja “não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política para realizar a sociedade mais justa possível. Não pode nem deve colocar-se no lugar do Estado. Mas, também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça” (Papa Bento XVI – Deus Caritas Est, 28). “Todos os cristãos, incluindo os Pastores, são chamados a preocupar-se com a construção de um mundo melhor” (Papa Francisco – Evangelii Gaudium, 183).
Os bispos e as conferências episcopais orientam que sacerdotes e diáconos não podem fazer propaganda ou apoiar candidatos ou partidos políticos, publicamente, no exercício do seu ministério. Trata-se aqui de não ligar a Igreja a nenhum candidato ou linha ideológica e também de respeitar o direito de escolha de cada cristão.
Que Deus nos ilumine e abra nosso coração para realizarmos nossas escolhas de acordo com os valores do Evangelho! Nossas escolhas.