Mês da Bíblia: terra, dom de Deus
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Continuando as reflexões sobre o livro de Josué, escolhido para ser o estudo deste Mês da Bíblia, vamos refletir sobre um dos aspectos teológicos mais importantes desse livro.

Um dos temas principais encontrados no Pentateuco (cinco primeiros livros da Bíblia) é a promessa da terra, que é cumprida no Livro de Josué, de modo a suscitar no povo de Israel a confiança nas promessas divinas. Mais tarde, em pleno Exílio, o povo pode confiar na presença contínua de Deus e crer que a promessa da terra continua em vigor. Ao mesmo tempo é importante a obediência à Lei para que, tendo sido perdoado e levado de volta à sua Terra, Israel não atraia de novo sobre a própria cabeça uma destruição como a que está experimentando.

Podemos afirmar que os temas teológicos do Livro de Josué concentram-se, sobretudo, na questão da terra. Nos capítulos de 1 a 12, temos a terra como Dom de Deus, terra que foi conquistada pelo Senhor e dada como presente ao povo de Israel. Se no Livro do Deuteronômio é apresentada a Lei de Deus que deve ser observada com fidelidade a fim de garantir a permanência do povo na terra, o Livro de Josué mostra um povo fiel a essa Lei, tendo como consequência a derrota dos cananeus.

Seguindo a tradição judaica, que enxerga Josué e Juízes como livro único, podemos considerar os textos de Js 12 a Jz 2 como um segundo bloco que tem por tema teológico a terra distribuída como dádiva de Deus. Esse texto, fazendo parte da história deuteronomista, tece uma profunda crítica contra a monarquia. Os reis cananeus que estão sendo derrotados simbolizam os assírios e os babilônicos que colonizaram Israel e Judá, dos quais este texto pretende romper as cadeias colonizadoras. Josué, ao descrever que não se deve acumular os bens das cidades conquistadas, critica a forma como a monarquia enriquece. A descrição da partilha das terras, tendo por base o tamanho das famílias, que por sua vez, são a base do sistema tribal, faz uma profunda crítica social à monarquia, que acumula todas as terras nas mãos do rei.

Atualmente, as evidências arqueológicas demonstram que a conquista da terra de Canaã não se deu, provavelmente, conforme está descrita no Livro de Josué. O livro seria muito mais uma projeção do passado refletida a partir da teologia deuteronomista, tendo por base a terrível experiência dos exílios assírio e babilônico, cujos responsáveis foram os reis de Israel e de Judá, por não serem fiéis à Aliança estabelecida com Deus.

O contexto da redação final do Livro de Josué seria o exílio ou pós-exílio da Babilônia. Daí a intenção de mostrar para os exilados que retornaram à terra que, se forem fiéis à Lei de Deus tal qual seus antepassados foram, haverão de ter a terra em suas mãos, mantendo assim esse grande dom dado por Deus.

(adaptado de texto de Eliani Aparecida Araujo Costa e Inácio José Tadeu Rodrigues Martins ODEM, disponível em https://paulinascursos.com/category/sab/dicas-biblicas/  )