Há um tempo para tudo
“Tudo tem seu tempo. Há um momento oportuno para cada coisa” nesta vida (Ecl 3,1).
Queridos leitores e leitoras: sabemos que a vida é uma dádiva divina com a qual o Criador presenteou o ser humano; é um estágio que nos permite desfrutar de inúmeras possibilidades desde o nascimento até a morte. Tudo é experiência. Como todas as coisas, a vida pode ser alegre, festiva e cheia de novidades, mas dependendo de como se vive, ela pode ser triste, cansativa e metódica. A solução para esse dilema parece estar em viver cada momento ciente de que estamos de passagem e, por isso, precisamos dar o nosso melhor todos os dias, todos os momentos, fazendo da existência – dádiva que recebemos – um dom para si e para o próximo.
Há quem diga que “a vida é uma poesia” e há quem concorde com isto, e quem discorde, mas uma coisa é certa: poética ou não, a vida é marcada por um ritmo que se chama tempo e que – de certa forma – controla todas as nossas ações. Na nossa existência, repleta de inícios e términos, o tempo pode ser visto como remédio para as dores, curativo para as feridas emocionais e esperança de melhorias. Mas, a vida pode ser vista principalmente como base fundamental para nos fazer enxergar que precisamos mudar, ver que é preciso aprender e nos conscientizar de que há beleza em todas as estações, justamente porque elas se sucedem, permitindo-nos saborear cada uma com as suas próprias características. Nesta perspectiva, na vida há um tempo para cada feito e, portanto, este não pode ser desperdiçado, pois, uma vez perdido, jamais o reencontramos.
Na vida de um bispo não é diferente: há o tempo do início da missão e o tempo em que a missão iniciada chega ao seu término, quando a Igreja concede àqueles que foram operários na vinha do Senhor o merecido descanso, um presente pela dedicação ao seu pastoreio, ao cuidado do rebanho que o Senhor lhe confiara. Após completar a idade de setenta e cinco anos, todo bispo deve escrever uma carta ao Papa, apresentando o seu pedido de renúncia do cargo, ato que fiz no início do ano. Assim se passa a missão a pessoas mais novas, dando lugar a novos modos de pensar e de agir. O meu pedido foi aceito no último dia quinze de junho, quando ficou nomeado como o novo bispo para esta Diocese de Jundiaí meu amigo e irmão no episcopado, Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, até então bispo de Itapeva – SP.
Na Diocese de Jundiaí a minha missão perdurou por doze anos, e neste tempo pude ainda mais experienciar que um bispo não trabalha sozinho: tudo é fruto de uma ação conjunta do povo de Deus: bispo, clero, religiosos(as), cristãos leigos e muitas pessoas voluntárias e ardorosas, sempre prontas para fazer de sua vida um serviço a Deus e à comunidade. Da minha parte, sinceramente, nutro no fundo de meu coração um sentimento de gratidão e profunda ação de graças a Deus, a esta Igreja que se faz presente na Diocese de Jundiaí, como também a toda sociedade dos onze municípios que a constituem. Agradeço a Deus por me permitir a disponibilidade e a saúde necessária para trabalhar em prol de seu Reino, cumulando-me de inúmeras oportunidades de aproveitar bem o tempo para dar-lhe o devido louvor e servir o seu povo. Ele é o Senhor do tempo e da história e, como acreditamos, nada se faz sem a sua graça e infinita bondade. A todo o povo desta Diocese e às autoridades constituídas, meu eterno muito obrigado. De coração, agradeço a todos por terem me acolhido de braços e coração abertos, confiando em meus projetos e nos meus sonhos. Sinceramente, peço humildemente perdão àqueles que magoei ou ofendi por alguma atitude. Minhas sinceras desculpas!
A Dom Arnaldo Carvalheiro Neto, que assumirá a direção desta Diocese no próximo dia treze de agosto, na celebração eucarística a ser realizada no Ginásio Municipal de Esportes “Doutor Nicolino de Lucca” (Bolão), em Jundiaí, a partir das 09h30, peço que todos o acolhamos de braços abertos, prometendo colaborar com ele para o crescimento da Igreja a serviço do Reino de Deus.
Por fim, saliento que esta minha mensagem, apesar de ser a última que escrevo para este jornal tão conceituado, A Federação, não é uma despedida, pois pretendo continuar morando em Jundiaí e, certamente, nos encontraremos muitas vezes. Peço ao Bom Deus que, pela intercessão de Nossa Senhora da Candelária, Padroeira da cidade de Itu, eu possa afirmar e viver a cada momento dos dias que me restam, o que Ele mesmo nos ensinou: depois de termos tentado cumprir a nossa missão, devemos simplesmente dizer: “Somos simples servos, só fizemos o que deveríamos fazer” (Lc 17,10).
E a todos eu abençoo!
Dom Vicente Costa
Administrador Apostólico a
Diocese de Jundiaí