Itu já tem Bispo!
Um divertido encontro entre Maria Cecília Bispo Brunetti e Dom Amaury Castanho acabou rendendo a célebre frase em epígrafe: em um ponto de parada na Rodovia Marechal Dutra, em 1989, Dom Amaury vinha de mudança de Valença (RJ), onde fora Bispo Diocesano, transferido para Jundiaí, como Coadjutor de Dom Roberto Pinarello de Almeida. Cecília, acompanhada de seu inseparável Pedrão, voltava de uma visita ao Santuário da Sagrada Face em Roseira. Na prosa, Dom Amaury insinuou, rindo, que talvez viesse a ser o primeiro bispo de Itu, ao que ela respondeu, com o humor característico: Itu já tem Bispo!
Cecília, claro referia-se ao próprio sobrenome, mas também à conhecida liderança religiosa que exerceu em sua terra natal; era uma figura gregária, cuja casa – o sobrado na Rua Floriano Peixoto – recebia visitas de padres e bispos, espécie de paróquia secundária da cidade. Ali surgiram diversas vocações religiosas.
Maria Cecília Bispo nasceu a 22 de setembro de 1918. O seu pai, Sr. Joaquim Luís Bispo era correspondente do “Estadão” em Itu, escritor que influenciou os filhos mais velhos, ela e o Prof. João, diretor na Escola Regente Feijó. Depois de estudar como interna no Colégio Patrocínio, Cecília deve ter sido a primeira mulher ituana a se formar em um curso superior, o que se deu em 1939 na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras “Sedes Sapientiae” em São Paulo. Lecionou Filosofia, Sociologia e História da Civilização em escolas em Itu e Salto.
Entre 1957 e 58, Cecília manteve programa semanal na Rádio Cacique, com crônicas sobre o centenário da chegada das Irmãs de São José a Itu, publicadas somente no seu centenário, em 2018, por iniciativa conjunta da Academia Ituana de Letras e do Museu da Música – Itu. Este livro intitulado “Centenário do Patrocínio” foi relançado na celebração dos trinta anos de fundação da ACADIL, na semana passada, afinal Cecília é patrona da Cadeira 21, tão bem ocupada pela poetisa Leonor Zaparolli Carpi.
Secretária voluntária na paróquia Nossa Senhora Candelária, Cecília Bispo colaborou enormemente com os párocos Mons. Monteiro, Mons. Medeiros e Mons. Benigno. Era o tempo dos movimentos que deram cor à Ação Católica na Itu das décadas de 1940 e 1950 e ela exercia notória liderança religiosa. Isto se manteve até o Concílio Vaticano II, cujas novas condições pastorais ela não aprovou.
Radicalizou-se em certa luta conservadora acompanhando o seu antigo professor, Plínio Correia de Oliveira. Posteriormente arrependeu-se e abandonou o movimento.
Figura culta, de convivência e prosa interessantíssimas, Cecília Bispo vivia rodeada de amigos, casa com portas sempre abertas à reza do terço, a discussões sobre temas espirituais, até seus últimos dias. Faleceu há exatos trinta anos, em 31 de julho de 1992, já viúva do Pedro Brunetti, seu companheiro de quatro décadas, sem deixar filhos. Vasculhando as antigas páginas d’A Federação, encontramos inúmeros artigos e crônicas de sua lavra, sob o pseudônimo “Macebis”, que ficam como legado de enorme contribuição à Igreja Católica, para dizer o mínimo.