Habitação do Divino na terra: críticas à Igreja Católica e seu fundamento espiritual
“Pentecostes, inversão da babel: unidade e superação da divisão de línguas”
Proliferam críticas a padres e à Igreja Católica, tanto dentro como fora dela. Citam-se tendências e divisões. Tenho visão diversa, porém acho importante ouvi-las. Na adolescência, enfrentei críticas que me afastaram da Igreja – o que talvez não tivesse acontecido se tivesse encontrado escuta e respostas. Entendo atualmente que até os apóstolos cometeram erros e foram fracos: Pedro, Paulo e os demais demonstraram incompreensões e até negaram Jesus. Nem por isso, ele deixou de neles confiar, atribuir-lhes sua missão e santificá-los. Reunindo e ensinando limitadas criaturas, Jesus lança as sementes da Igreja.
Não vejo, portanto, porque negar erros cometidos por autoridades da Igreja Católica. Pessoalmente, sou grata por ser ela conduzida pelo valoroso Papa Francisco e por ter um dedicado padre dirigindo minha comunidade. Contudo, nem por isso considero-os infalíveis em questões humanas. A fé cristã é centrada em Cristo e no seguimento aos seus ensinamentos.
Recentemente, uma pessoa compartilhou comigo ter ficado chocada por um padre defender preferências políticas pessoais e criticar candidatos oponentes, no momento consagrado ao aprofundamento da Palavra de Deus no Evangelho. Considerando tal conduta e sua repetição inapropriadas, no espaço sagrado, resolveu não participar mais dessas missas. Depois, ponderou ser melhor levar sua crítica ao padre, e não se afastar da comunhão.
Outra pessoa me relatou ter deixado a direção de um movimento de sua paróquia por causa do conflito com o padre. Porém, prosseguiu indo à missa diária por ele presidida. Continuou sendo por ele convidada para fazer leituras, apesar do conflito que existira entre ambos. Algum tempo depois, em público, o padre, sem mencionar o ocorrido entre os dois, fez autocrítica da maneira como ele próprio se conduzira em relação a este movimento.
Meditando a respeito, conclui ser fundamental distinguir a dimensão humana e falível da Igreja de sua misteriosa dimensão divina. Erros, conflitos e divisões são inerentes à vida no mundo. Ao ver apenas o plano social, ignoramos sua dimensão espiritual. Entendo a dificuldade: a face divina, una e indivisível da Igreja é oculta, apenas acessível pelo conhecimento do Espírito.
Ponto chave de minha decisão de retornar à Igreja encontra- se no seguinte diálogo de Jesus com Pedro. Ele perguntou aos discípulos: “…quem dizeis que eu sou?” Simão Pedro respondeu: “Tu és o Messias, o Filho de Deus vivo”. Jesus replicou: “… tu és Pedro e sobre esta Pedra, construirei minha Igreja”. Esta afirmação e outras de Jesus indicam seu projeto de criação da Igreja.
Sua fundação ocorre, após a Ressurreição e Ascensão dele, quando seu divino Espírito ‘desce habitar’ a comunidade dos discípulos. Era a festa judaica ‘Shavuot’, celebrada cinquenta dias após a Páscoa (Pentecostes). Estavam reunidos, quando o Espírito Santo repousa na forma de línguas de fogo sobre eles. Transmiti-lhes, então, o dom das línguas, impulsionando-os a anunciar o Evangelho aos judeus vindos de todas as partes do mundo para esta festa. Embora falando línguas diferentes, eles passam a ouvir e entender os apóstolos na linguagem una, divina e universal do Espírito. Nasce assim a Igreja, fruto da ressurreição de Cristo.