O mundo precisa da fé?
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“Pois todo o que foi gerado de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que venceu o mundo: a nossa fé” (1Jo 5,4).

Caríssimos leitores e leitoras: diante das diversas situações, principalmente aquelas mais complexas, ouvimos muitas pessoas afirmarem que têm fé. De fato, este é um dom valioso que nos vem de Deus, e gostaria de convidá-los a uma breve reflexão a respeito.

Primeiramente é necessário separar o joio do trigo. Para saber o que é a fé, precisamos entender o que ela não é. Não podemos confundir esse dom divino com algum tipo de crendice ou superstição. Não podemos considerá-la como uma crença simplória em algo transitório, como quem diz: “Eu tenho fé de que o ônibus chegará logo”.

São tantos os sinônimos, as canções e os ditos populares sobre ela, que podemos confundir as coisas. O Catecismo da Igreja Católica diz que: “A fé é uma adesão pessoal do homem inteiro a Deus que se revela. Ela inclui a adesão da inteligência e da vontade à Revelação que Deus fez de si mesmo por suas ações e palavras” (n. 176).

Como é fácil perceber, não podemos tratar a fé de forma leviana. Ela não é um conjunto de opiniões pessoais ou teorias. Também não se pode confundi-la com qualquer tipo de ideologia. Ter fé é algo que supera o entendimento simplesmente humano. É algo que nos faz transcender e entrar em contato direto com Deus Pai Criador, com Deus Filho Encarnado e com Deus Espírito Santo.

Ter fé é um dom que muitos gostariam de possuir, mas por vários motivos, nem sempre conseguem. O materialismo e o racionalismo exagerados, por exemplo, são grandes barreiras que impendem o acesso à verdadeira fé. Portanto, devemos ser gratos a Deus pela graça desse dom. Porém, a fé que professamos não nos deve tornar orgulhosos ou vaidosos. Principalmente, a fé que testemunhamos não pode fazer com que nos sintamos melhores ou superiores a outros irmãos e irmãs.

Por outro lado, também não podemos cair na omissão e esconder o testemunho da fé que praticamos. O nosso modo de ser Igreja, o nosso jeito de viver os valores cristãos, deve incentivar outras pessoas a uma adesão sincera ao Evangelho de Jesus Cristo. Observando-nos a praticar a fé, as pessoas deveriam ter vontade de caminhar conosco.

Caríssimos leitores e leitoras: outro cuidado fundamental é não sair por aí acreditando em qualquer coisa. Infelizmente há pessoas mal-intencionadas que vivem explorando a fé simples e singela do nosso povo. Há charlatães e mercenários da fé em cada canto. Portanto, precisamos ter o devido discernimento para não cairmos em ciladas.

Deus gratuitamente nos concedeu o dom da fé para que sigamos o seu Filho Jesus. O Cristo nos revelou os pontos essenciais da fé para que não sejamos enganados e trilhemos o caminho seguro do Evangelho. Em Pentecostes, o Espírito Santo foi dado à Igreja, para que tenhamos o discernimento e a sabedoria necessária para responder aos dilemas desta vida com as riquezas da fé.

Neste nosso tempo, tão cheio de tecnologias e avanços científicos, é fácil constatar que o mundo ainda precisa da genuína fé. O progresso humano, por maior que seja, jamais será capaz de satisfazer ao espírito humano com o verdadeiro sentido da vida e da felicidade. Respondendo à pergunta do título deste artigo: sim, o mundo e as pessoas ainda precisam da fé, embora muitas vezes não se tenham dado conta disso.

Não há como vencer as mazelas do mundo (as guerras, as misérias, as injustiças, as divisões, os egoísmos, etc.) sem fé. É ela que nos impulsiona, cotidianamente, a outro grande dom que Deus nos dá: o da esperança. Com fé, esperamos dias melhores para nós e para as gerações futuras; esperamos cumprir a nossa missão para testemunharmos os valores do Evangelho; esperamos o dia em que o Bem finalmente vencerá todo o mal.

Com a intercessão da Santa Virgem Maria, aquela que primeiro acreditou, que possamos continuar crescendo na fé e na esperança, e assim colaborar para a paz e a justiça no mundo, sendo discípulos e discípulas, missionários e missionárias, verdadeiros embaixadores e embaixadoras de Jesus Cristo e do seu amor por todos nós.

E a todos abençoo.

Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano de Jundiaí