Viva o Rei! Morte ao Rei!
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Ao iniciarmos a Semana Santa neste próximo Domingo de Ramos, vamos vivenciar uma das cerimônias mais inquietantes da Igreja.

O povo de Jerusalém recebe Jesus com ramos e mantos espalhados pelo chão, formando um tapete para que ele passe. Cantam “Hosana ao Rei que vem em nome de Deus!” Reconhecem que ali está o enviado de Deus, o Rei que veio para salvá-los. No entanto, poucos dias depois, esse mesmo povo condena Jesus à morte ao escolher Barrabás para ser solto em lugar de Jesus.

Essa é uma contradição que incomoda. Como poderia o mesmo povo reconhecer e aclamar o seu Rei e, dias depois, levá-lo à morte? Será que o coração dessas pessoas era tão duro a ponto de desejar a morte daquele que foi enviado por Deus? Pura crueldade?

Um olhar mais atento para a história e para a religiosidade daquele povo nos fazem compreender que o problema foi outro: expectativa.

O que esperava o povo judeu? A vinda do Messias, do enviado de Deus, do Salvador. O que esperava o povo judeu que seu Salvador fizesse? Que os retirasse das garras do poder tirânico do Império Romano, que oprimia e maltratava o povo.

Já na entrada triunfal em Jerusalém, Jesus surpreende o povo e inverte sua lógica. Esperavam um grande rei, coberto de glória. Por isso decoraram as ruas, por isso entoaram cantos. Mas Jesus chega montado em um jumentinho, um animal de menor importância.

No momento em que Jesus estava sendo preso, Pedro saca a espada e ataca. Jesus lhe diz: “Pelas armas não!” Ao ser questionado por Pilatos se ele era realmente o rei que os judeus esperavam, Jesus responde: “Meu Reino não é deste mundo!” E, para piorar sua imagem perante o povo, ele não esboça nenhuma reação diante dos castigos que sofreu.

A expectativa dos judeus é de que Jesus pudesse ser o Messias prometido por Deus e enviado para salvá-los. Mas eles esperavam alguém que lutasse, que combatesse, que provocasse uma rebelião a favor do povo, contra o Império Romano. Mas Jesus não fez nada disso. Ao contrário, mostrou com suas atitudes que era preciso muito mais que uma guerra para mudar aquilo que realmente importa: o coração de cada um.

Mas, naquele espaço de tempo entre o domingo da entrada triunfal e a sexta-feira do julgamento, o povo não entendeu Jesus. Ficaram frustrados por ter acreditado que aquele poderia ser o “salvador” deles. Pelo ponto de vista da guerra e da violência, Barrabás estava muito mais ao lado do povo do que Jesus. E assim foi feita a escolha.

E nós, que “salvador” estamos esperando? Aquele que vem nos salvar dos nossos incômodos cotidianos? Ou aquele que, segundo os planos de Deus, vem curar nosso coração pelo Amor da doação, da misericórdia e do perdão, mas que também pede de nós que mudemos nossas vidas e sigamos o seu Caminho?

A liturgia dos Ramos precisa nos lembrar de nossas expectativas. Às vezes, elas podem estar equivocadas…