Duas forças na história da educação em Itu
Não é saudosismo, é saudade! A evocação de um passado que fala alto nos leva a olhar para trás, vivenciar sensações que a memória não permite esquecer e repensar o que a educação representa na atualidade.
Março foi um mês marcado pelo desaparecimento de duas personalidades da educação que exerceram seu papel com dedicação, mudaram a vida de muita gente que ainda está aqui e, justamente por isso precisam ser lembradas.
No tempo do curso primário, atual Ensino Fundamental II, fui matriculado na Escola Estadual Regente Feijó, a mais próxima de casa, quando o Grupo Escolar Dr. Cesário Mota foi deslocado da Rua Paula Souza para o atual endereço. Eu era irrequieto, desorganizado e as traquinagens invariavelmente me levavam à diretoria. Naquela temida parte da escola pontificavam duas figuras, o gentilíssimo diretor, João Bispo e a imponente orientadora pedagógica, Francisca Nardy, que em casa minhas tias chamavam pelo carinhoso apelido de Maninha. Era uma figura notável: alta, elegante, bem vestida, de voz grave e linguajar de quem se preocupava em servir de modelo aos jovens daquele tempo esquisito, de aculturação e consumismo, legado da ditadura militar. Perdido na minha criancice, a presença da educadora se impunha, forjando um sentido forte de vida adulta. Anos depois nos reencontramos na Igreja, quando ela foi ministra extraordinária da Eucaristia, retornando ao Bom Jesus, onde, em menina fora congregada mariana.
Quando completei onze anos, dada a minha pavorosa caligrafia, fui matriculado na Escola Remington, dirigida pela Profa. Emília Camargo, a segunda mestra que nos deixou recentemente. Penso em quantas pessoas passaram pela sua dedicada direção em quase sete décadas como professora de datilografia. Quanta gente se profissionalizou conseguindo dar uma reviravolta na vida justamente pelo uso adequado da “máquina de escrever”. Aquela sala na esquina da Paula Souza com o Becão marcou uma época em Itu. A sonoridade característica das velhas e barulhentas máquinas que funcionavam o dia todo, e mesmo ao anoitecer, e o silêncio de quem se concentrava e aprendia a técnica dos escritórios modernos, entrava em diálogo com o ritmo do andar de passos firmes daquela senhora de cabelos grisalhos, raro sorriso, pouca fala, discretamente vestida com saia e camisa, sem vaidade, inclusive pelos votos espirituais que fizera na juventude.
A Profa. Francisca Benedita Nardy nasceu em Itu a 21 de julho de 1926, descendente do mestre de banda e compositor José Maria Nardy. Estudou no Colégio do Patrocínio. Deixou-nos aos 95 anos no dia 13 de março. Dona Emília Gertrudes da Silveira Camargo também era ituana, nascida a 02 de outubro de 1924, última filha do casal Abdon (Bedão) e Leopoldina, gente dos velhos troncos de nossa terra. Exímia datilógrafa. Partiu no dia 06 de março.
Ambas não deixaram filhos; mas muita gente – centenas ou milhares de pessoas – pode se considerar herdeira da sua dedicação à arte de educar, silenciosa e transformadora profissão.
Ficam aqui o respeito e o agradecimento enormes às mestras.