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por Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Hoje, num mundo em rápidas mudanças é urgente um novo paradigma educacional. Em primeiro lugar, a educação começa em casa, com a família. Não é possível delegar para a escola a responsabilidade de formar cidadãos éticos e íntegros se em casa a criança e o jovem recebem, diariamente, lições contrárias. O respeito, a dignidade e o cuidado são valores ensinados em família. Se ela não cumprir seu papel dificilmente a escola conseguirá suprir essa lacuna. Poderá ajudar a rever algumas posturas, mas de forma insuficiente.
Tanto na escola quanto na família emergem desafios que as crianças e os jovens estão pedindo atenção. É preciso maior proximidade, caso contrário, eles se isolarão nas “ilhas paradisíacas” das redes sociais. Pedem para ser mais escutados em suas necessidades, seus medos e seus sonhos, caso contrário, pais e professores lhes serão estranhos e até adversários. Quando eles não percebem uma relação de confiança, tendem a se fechar e a procurar outros referenciais. É urgente entender que apesar da importância do trabalho e da remuneração, não há dinheiro que pague o tempo gasto por um pai e uma mãe que se dedicam aos seus filhos. Há um clamor de todos os lados, como sempre nos recorda o Papa Francisco: maior proximidade, mais escuta e mais encontro.
A educação precisa formar homens e mulheres capazes de pensamento crítico, dotados de elevado profissionalismo, mas sem perder o senso de humanidade e orientada em colocar a própria competência ao serviço do bem comum. Humanizar as relações é o maior desafio da família e da escola atual.
Muitas propostas educativas atuais sublinham a razão instrumental e a competitividade, essas são portadoras de um conceito puramente funcional da educação, como se ela só tivesse legitimidade ao serviço do mercado e do trabalho. E infelizmente muitas famílias têm essa visão estreita da realidade. Isso abala a visão integral de educação, não educa, apenas informa e não forma.
O individualismo contemporâneo tem produzido pessoas capazes de oferecer mais afeto a um pet do que aos idosos. É preciso valorizar os animais e essa convivência deveria fazer perceber que se a vida irracional sabe se relacionar e se importar, muito mais os seres dotados de inteligência e vontade podem cuidar e amar uns aos outros. Isso é ser humano.
Na proposta de uma educação integral cabe ao professor e aos familiares, apesar das dificuldades e resistências, não perder o sonho de uma humanidade nova, pois ao assumir a missão de educar, o ser humano enleva sua capacidade de pensar e construir um mundo melhor. Alguém poderia achar isso utópico e irrealizável, contudo, quem conhece a força da educação sabe o quanto ela é capaz de construir o imprevisível no serviço do bem comum.