Amor e serviço em primeiro lugar
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“Quem quiser ser o maior, no meio de vós, seja aquele que vos serve” (Mc 10,43).

Caríssimos leitores e leitoras: no Evangelho do último domingo, o 29º Domingo do Tempo Comum, refletimos que, embora “cheios de temor” (cf. Mc 10,32), os discípulos continuaram seguindo Jesus até Jerusalém. Vale a pena voltar a refletir sobre esta passagem do Santo Evangelho, pois ela contém uma mensagem muito importante para a vivência de nossa fé cristã.
O Evangelho nos conta que os apóstolos têm uma vaga impressão de que, na capital de Israel, aconteceria o que o Mestre previu e avisou: sua paixão, morte e ressurreição. Mas não compreendem claramente o que está por vir: em Jerusalém, o Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos líderes judaicos, para cumprir o projeto do Pai e morrer uma morte violenta na cruz (cf. Mc 10,33-34).
Diferente de outras ocasiões, desta vez não há protesto. Jesus já explicara que tudo isso seria necessário para ele permanecer fiel à vontade do Pai. Porém, os filhos de Zebedeu ousam fazer um pedido. Resumidamente, queriam um lugar de destaque ao lado de Cristo, quando viesse o Reino.
Isso nos mostra que Tiago e João não entenderam nada da lógica do Reino e continuavam a pensar de acordo com a lógica do mundo. Para eles, o importante era a realização dos seus sonhos pessoais de autoridade, de poder e de grandeza.
Jesus explica aos dois que, para se sentarem à mesa do Reino, deveriam estar dispostos a “beber o cálice” que Ele vai beber e a “receber o batismo” que Ele vai receber. Beber do mesmo cálice significa partilhar o mesmo destino de entrega e de dom da vida que Jesus vai cumprir. Receber o batismo evoca a efetiva participação e imersão na paixão e morte de Jesus.
Para fazer parte do Reino é necessário, portanto, que os discípulos estejam dispostos a percorrer, com Jesus, o caminho do sofrimento, da entrega, do dom da vida até à morte. Apesar de Tiago e João manifestarem, com toda a sinceridade, a sua disponibilidade para percorrer o caminho do dom da vida, Jesus percebe que eles não entenderam nada do que ele lhes disse.
É importante destacar que Jesus não se aproveita de sua condição divina. Ele é o primeiro a não ter medo de perder a sua dignidade, ao assumir a pobreza, a fragilidade e os pecados da humanidade. Na lógica divina, o mais importante não é aquele que protege e defende a sua autoridade e o seu poder a qualquer custo, mas sim aquele que é capaz de descer ao encontro dos últimos, dos descartados pela sociedade, dos marginalizados, dos sofredores, para lhes oferecer o seu amor. Ele veio para servir.
Cristo evita associar o cumprimento da missão à recompensa, pois o discípulo não pode seguir o caminho de Jesus ou embarcar em determinado projeto apenas por interesses humanos. Pela lógica do Reino, o discípulo é chamado a seguir Jesus com uma entrega total, sem esperar nada em troca.
Caríssimos leitores e leitoras: a reação indignada dos demais apóstolos indica que todos eles tinham, na verdade, as mesmas e equivocadas pretensões. O pedido de Tiago e de João manifesta e confirma as secretas ambições que todos eles guardavam no seu coração. Jesus aproveita tal circunstância para reiterar o seu ensinamento e reafirmar a lógica do Reino.
Em nossa sociedade, os primeiros e os mais importantes são aqueles que têm dinheiro e poder, os que frequentam as festas badaladas nas revistas da sociedade, os que se vestem segundo as exigências da moda, os que têm sucesso profissional, etc. No Reino de Deus, os primeiros são os que se colocam a serviço de todos. Na comunidade a única grandeza é a de quem faz da própria vida um serviço aos irmãos e às irmãs.
Devemos servir aos pobres e aos fracos, aos doentes e aos marginalizados, dos sem voz e sem vez, muitas vezes abandonados pelos poderosos deste mundo. O desafio perene dos cristãos é amar os que sofrem, amar os que ninguém ama, sem esperar qualquer tipo de reconhecimento público ou recompensa terrena.
Caríssimos leitores e leitoras: para realmente fazermos parte do Reino de Deus, urge fazer da nossa vida um serviço desinteressado e um dom de amor gratuito ao próximo. Cada um de nós deve ser capaz de renunciar aos esquemas egoístas e às ambições pessoais, para servir e dar a vida. Assim seremos verdadeiramente os discípulos e as discípulas, os missionários e as missionárias do Senhor.

 

E a todos abençoo.
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano

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