Viver a Semana Santa
Dom Vicente Costa
Bispo Diocesano de Jundiaí
De tal modo Deus amou o mundo, que deu o seu Filho Unigênito, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).
Caríssimos leitores e leitoras: na próxima semana a Igreja Católica dá início à Semana Santa, com o Domingo de Ramos, no 10 de abril, a qual se estenderá até o dia 17 de abril, Domingo de Páscoa. A Semana Santa é o momento central da liturgia católica, a semana mais importante do ano litúrgico, quando se celebram, de modo especial, os mistérios da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo.
Neste período tudo celebra o Mistério da Salvação. “Ele assumiu as nossas fraquezas, e as nossas dores, ele as suportou…” (Is 53,4). A espiritualidade das cerimônias litúrgicas atualiza em nossa vida, hoje, o Mistério que estamos celebrando. Por isso, celebrar a liturgia não é fazer uma simples lembrança, mas trazer para nossa vida, isto é, atualizar, tornar novo, aquilo que Jesus Cristo realizou por nós: seus gestos, palavras e principalmente o amor que o levou a morrer por nós na cruz (cf. Jo 3,16). Quem garante isso é o Espírito Santo.
Desse modo, o Mistério Pascal é o único evento na história que não passa. Estamos ante algo absolutamente único: todos os demais acontecimentos sucedem uma vez e logo passam, são absorvidos pelo passado, submetidos à “lei do esquecimento”, que embaça as memórias, quanto mais se esvaem no tempo. Em vez disso, o mistério de Cristo participa da eternidade divina e perpassa, portanto, todos os tempos e neles se mantém permanentemente presente.
Durante a Semana Santa, acontecem cerimônias importantes, que relembram aos cristãos o amor e o sacrifico de Jesus pela humanidade. No Domingo de Ramos celebramos a entrada histórica de Jesus de Nazaré na cidade de Jerusalém. Cristo, que é saudado como Messias e Rei, entra voluntariamente para sua Paixão. A leitura da Paixão neste domingo nos convida a entrar conscientemente na Semana Santa da Paixão gloriosa e amorosa de Cristo, nosso Senhor e Salvador.
Por meio dos Evangelhos que relatam os dias de segunda, terça e quarta-feira da Semana Santa, se contempla Maria de Betânia ungindo os pés de Jesus (cf. Jo 12,1 – 8). Depois Cristo revela o que se passa no coração de Judas Iscariotes (cf. Jo 13,21 – 33) e, em seguida, ocorre a celebração, com os Apóstolos, da festa da Páscoa judia e a traição de Judas (cf. Mt 26,14 – 25).
Uma das cerimônias litúrgicas da Quinta-feira Santa (na nossa Diocese ela acontece na quarta-feira à noite na Catedral) é a bênção dos santos óleos, usados durante todo o ano pelas Paróquias. São três os óleos abençoados nesta celebração: o do Crisma, dos Catecúmenos e dos Enfermos. Ela conta com a presença de sacerdotes, diáconos, seminaristas e leigos de toda a diocese. É um momento de reafirmar o compromisso de servir a Jesus Cristo.
Já o Tríduo Pascal (a Missa vespertina da Ceia do Senhor, a celebração da Paixão do Senhor, a Vigília Pascal e o Domingo da Ressurreição) consiste na maior celebração das comunidades cristãs. O Tríduo é o centro do ano litúrgico, fonte que alimenta a nossa vida de fé. Celebrar o Tríduo Pascal da paixão e ressurreição do Senhor é celebrar a obra da redenção humana e da perfeita glorificação de Deus que o Cristo realizou quando, morrendo, destruiu a nossa morte e, ressuscitando, renovou a vida.
Portanto, a mística da Semana Santa leva o cristão a buscar compreender o mistério do amor divino. A cruz, para os que viveram no tempo de Jesus, significava a maior humilhação e castigo para o ser humano. Contudo, nosso Salvador levou a humanidade a entender que a cruz se tornou o lugar máximo de salvação, redenção, vitória sobre a morte e vida para a Igreja: “O último suspiro de Jesus passou a ser o primeiro respiro da Igreja! É o coroamento de toda a obra da redenção, o seu fruto mais precioso. Pois a redenção não consistiu somente na remissão dos pecados, mas também, positivamente, no dom da vida nova do Espírito. Tudo, afinal, tendia a isto e a própria remissão dos pecados só se efetua hoje, na Igreja, em virtude do Espírito Santo” (Raneiro Cantalamessa, O Poder da Cruz, São Paulo: Edições Loyola, p. 46).
Queridos irmãos e irmãs, não percamos, pois, a oportunidade de celebrar em comunhão com Jesus Cristo e sua Igreja os principais mistérios de nossa salvação. Em meio a este tempo de tanto sofrimento e dor por causa da pandemia da Covid19, e agora com a guerra no leste europeu, como cristãos e cristãs, tenhamos uma certeza: o amor venceu a morte!
Vivamos tudo isso com amor! Vivamos os mistérios da Semana Santa!
A todos abençoo, desejando-lhes uma abençoada e fecunda Semana Santa.