O “anjo negro” n’A Federação

Figura de expressão na intelectualidade paulistana e nome representativo no movimento afrodescendente, Arlindo Veiga dos Santos foi um ituano pouquíssimo conhecido em sua terra. Nasceu em 1902, filho de um funcionário do Colégio São Luís que conseguiu matricular seus dois filhos naquela respeitada instituição de ensino. Quando os jesuítas deixaram Itu para estabelecerem-se em São Paulo, Arlindo Veiga, com 15 anos, também mudou-se para a capital. Estudou na faculdade São Bento, que viria a tornar-se a PUC, formando-se em Filosofia e Letras, em 1926. Aderiu a uma visão de mundo extremamente conservadora.
Arlindo fundou e presidiu a Frente Negra Brasileira (1931-1937), maior entidade do gênero, na história do Brasil, Aliou-se à luta política antirracista, produzindo muito, escrevendo para jornais e publicando livros, posteriormente. Presidiu, também, a Ação Imperial Patrianovista Brasileira, organização monarquista que teve inserção em vários estados da nação entre as décadas de 1930 e 1960.
Arlindo Veiga dirigiu os jornais Pátria Nova, O Bibliófilo e os semanários Mensageiros da Paz e O Século, ligados ao pensamento católico conservador e ao integralismo; Tornou-se congregado mariano na paróquia de Santa Ifigênia, na capital, da qual foi presidente. Desse tempo, o apelido “anjo negro”.
Professor de Latim, Inglês, Português, História, Sociologia e Filosofia (São Bento, PUC-SP), Veiga publicou os livros: ‘Para a ordem nova’, ‘Eco do Redentor’, ‘A lírica de Luiz Gama’, ‘O Problema Operário e a Justiça Social’, ‘Brasil, província de El Rei’, ‘Sentimento de Fé e Incenso de minha miséria’, ‘De Nóbrega e outros patrícios’. O seu livro ‘Amar… e amor depois’ recebeu menção honrosa da Academia Brasileira de Letras, em 1923. Publicou, também, outras obras de cunho político, social, lírico e ligados à questão racial.
Arlindo Veiga, nos primeiros tempos, vivia em dificuldade financeira, na capital, considerava-se um missionário, fazia premonições e imaginava que, aos 33 anos, aconteceria algo extraordinário em sua vida, como apontam cartas do período. Essa curiosa figura se mudou de Itu, mas não deixou completamente a cidade, afinal, a partir de 1920 passou a publicar sonetos no jornal A Federação, com destaque, na primeira página. Muito próximo dos redatores do jornal, antigos professores no Colégio São Luís, Veiga dedicou alguns versos ao Dr. Manoel Bueno, responsável pela A Federação nesse tempo.
As suas composições poéticas, invariavelmente, eram religiosas e moralistas. Inspirava-se em outros escritores para construir uma retórica em versos. Em 11 de agosto de 1920, escreveu “Glória”, inspirado no verso “The paths of glory lead but to the grave” – Os caminhos da glória conduzem apenas ao túmulo”, do poeta inglês Thomas Gray (1716 – 1771). Revela facilidade e qualidade na versificação, porém, a temática é sombria.
Publicou também traduções. Entre 1924 e 1925, o jornal trouxe, no rodapé da primeira página, “O Amor”, escrito originalmente em francês, pelo Padre Gabriel Martin, que Veiga traduziu em pequenos capítulos, a respeito de Santa Terezinha do Menino Jesus.
Arlindo Veiga dos Santos faleceu solteiro em Itu, em 1978 e é patrono de uma Cadeira na Academia Ituana de Letras.