A Federação e as letras
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Este jornal nasceu com o propósito muito claro de defender a fé católica, educar e formar os fiéis através da informação sobre a religião e também informar da vida da Igreja em Itu, divulgar missas, rezas, noticiar grandes celebrações, construindo pontes entre os templos e as residências, entre o clero e os leigos. Mas também sempre foi um periódico noticioso da vida civil, das novidades, saudando famílias pelo nascimento de crianças, publicando pregões de casamento e longos obituários; criticava posturas do governo e o comportamento de pessoas. Mas também cumprimentava os que distinguiam-se pela cidadania.
A vida literária encontrou grande espaço neste jornal. Nas primeiras edições, para combater pregadores protestantes, publicou-se a tradução de um romance inglês fictício, cujo conteúdo sugeria uma resposta a determinadas ações dos “inimigos da fé” e das matérias que vinham no jornal que o apoiava. Mas também publicava muitos poemas e crônicas do dia a dia.
Desde o início, abriu espaço para a Arcádia Gregoriana, como era chamada a academia literária existente no Colégio São Luís, dirigida pelo Prof. José Leite Pinheiro. Noticiava as suas reuniões e solenidades, premiações e publicava trechos de discursos. Quando o colégio deixou Itu, início de 1918, houve um pequeno hiato nessas publicações.
Em 1921 foi criado o Grêmio Literário Conselheiro Paula Souza, iniciativa de jovens católicos que viviam próximos do Convento do Carmo e seu ginásio. Era professor o José Leite Pinheiro, do grupo fundador d’A Federação. Dessa escola saíram muitos leigos que assumiram lugar de liderança, inclusive neste jornal, mas também formaram-se três bispos: Dom Raimundo Lui, Dom Gabriel Paulino Bueno Couto e Dom Manoel da Silveira D’Elboux. Este foi quem liderou a criação do grêmio, mas passou a presidência a Francisco Nardy Filho, trinta anos mais velho que os jovens do grupo. A Federação noticiou a vida desse grêmio, que durou cerca de cinco anos, desde a formação da sua biblioteca, das solenidades, a valorização das figuras históricas de Itu e do Brasil e transcreveu discursos que ocupavam páginas inteiras do semanário.
Em algumas oportunidades, os redatores teciam elogios à instituição, cumprimentando os responsáveis pelo belo exemplo de oferecer espaço de leitura aos jovens, proporcionando bons livros, encontros instrutivos e de acentuada qualidade moral. Pensavam estar formando novas gerações de católicos para Itu e, talvez, também para o jornal, o que, de fato, aconteceu.
Durante décadas, A Federação publicou folhetins católicos no rodapé da primeira página, como os grandes jornais faziam antigamente. Alguns eram inéditos, outros eram traduções ou ainda a republicação de livros desconhecidos dos leitores. Havia biografias de santos, ficções que passaram pelo crivo de censura da redação e, até mesmo, produção local. Por exemplo, muitos anos depois da morte do primeiro redator do jornal, Dr. Augusto César de Barros Cruz, o jornal republicou, página a página, o seu romance histórico O Paulista. Iniciativas como essa tornavam o jornal mais atraente e convidativo, para públicos diferenciados.

Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica do Bom Jesus