“A Federação”: 120 anos de história e olhar para o futuro

Neste mês de maio de 2025, o jornal “A Federação” completa 120 anos de existência, sendo um dos semanários mais longevos do Brasil ainda em circulação. Fundado em 5 de maio de 1925, o jornal surgiu numa época em que o Brasil ainda era um país essencialmente rural; ainda não existiam o automóvel, a televisão e o avião; os computadores, a internet e os telefones celulares nem faziam parte dos sonhos.
São 120 anos de história que acompanham praticamente todo o século XX e o primeiro quarto do século XXI, com todas as mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais que aconteceram durante esse período.
Um mundo em
transformação
Pensando na história mundial, “A Federação” acompanhou a Revolução Russa, duas Guerras Mundiais, a Guerra Fria, as guerras das Coreias e do Vietnã, a queda do Muro de Berlim e o final da União Soviética, o crescimento do terrorismo e vários movimentos de reorganização da geopolítica mundial, além de muitas mudanças culturais.
No Brasil, a criação de “A Federação” coincide com os primeiros anos da República, proclamada 16 anos antes. Acompanhou a Revolução de 1930, o Estado Novo, a redemocratização, a Ditadura Militar e um novo período de redemocratização. Nesses anos, o país saiu de uma economia essencialmente agrária para uma economia industrializada, acompanhando as grandes inovações tecnológicas.
Nas comunicações, o mundo assistiu a ascensão do rádio, o surgimento do cinema, do telefone, da televisão, da internet, dos “smartphones” e tantos outros aparatos tecnológicos que tornaram a comunicação global e instantânea.
Mudanças na Igreja
A Igreja, por sua vez, procurou acompanhar essas transformações e enfrentar os desafios internos e externos. O período foi marcado por 11 Papas: Pio X (1903-1914), Bento XV (1914-1922), Pio XI (1922-1939), Pio XII (1939- 1958), João XXIII (1958-1963), Paulo VI (1963-1978), João Paulo I (1978), João Paulo II (1978-2005), Bento XVI (2005-2013), Francisco (2013-2025) e Leão XIV (2025-). Cada um, à sua maneira, procurou enfrentar os desafios de sua época, posicionando-se frente aos acontecimentos históricos e aos desafios internos da Igreja, que não ficou imune às transformações da sociedade.
A crescente secularização da sociedade, especialmente na Europa, gerou um afastamento da observância religiosa e da crença nos ensinamentos cristãos, diminuindo consideravelmente o número de fiéis. Por outro lado, a Igreja viu sua influência se expandir na América Latina, África e Ásia, para onde foram enviados inúmeros missionários.
O Concílio Vaticano II (1962-1965), convocado pelo Papa João XXIII, reuniu bispos católicos de todo o mundo para refletirem sobre a necessidade da Igreja se adaptar às mudanças na sociedade. O Concílio trouxe mudanças nos aspectos litúrgicos, mas também provocou fortes alterações na ação pastoral da Igreja, valorizando o papel dos leigos e sua atuação na sociedade.
Houve um crescimento nas tentativas de aproximação com as igrejas cristãs (ecumenismo) e com as demais religiões (diálogo inter-religioso). A paz entre os povos esteve entre os temas mais frequentes desses esforços, buscando se opor às ondas de violência provocadas especialmente pelo fundamentalismo religioso.
Nos últimos anos, preocupada com o futuro do planeta e com a influência das novas tecnologias, a Igreja se posicionou em defesa do meio ambiente e pelos cuidados na implantação da Inteligência Artificial.
Um jornal a serviço da comunidade
Criada como meio de comunicação pela “federação dos movimentos católicos” de Itu – num momento quem que a cidade contava apenas com uma paróquia – o jornal “A Federação” acompanhou todas essas mudanças procurando realizar aquele que foi seu principal objetivo desde o início: “Evangelizar por meio da comunicação”.
Os desafios não foram poucos, como nos mostra a retrospectiva histórica “Nossa jornada”, que vem sendo contada pelo professor Luís Roberto de Francisco (veja na página 7).
Fiel a cada momento histórico e às orientações da Igreja, “A Federação” tem procurado ser um instrumento de Evangelização por meio da publicação de textos reflexivos de autoria de papas, bispos, sacerdotes e leigos, muitos deles de nossa cidade e região, trazendo reflexões da Palavra de Deus, do Magistério da Igreja e de aspectos significativos da vida da Igreja e da sociedade de cada época. Fato é que o jornal ocupou por muito tempo um papel importante como veículo de formação e informação da Igreja Católica e da sociedade ituana.
Com o surgimento da internet e a disseminação dos “smartphones”, a comunicação digital trouxe mudanças no acesso a informações e conhecimento. Revistas e jornais impressos tiveram uma queda acentuada em seu número de leitores, levando a uma migração para o universo digital. Em inúmeros casos, esses veículos precisaram finalizar o trabalho de impressão e até mesmo encerrar por completo suas atividades.
O fenômeno das redes sociais, criado no final do século XX e que cresceu exponencialmente a partir da virada do milênio, hoje faz parte e modifica a vida das pessoas de todo o mundo, tornando essenciais na comunicação de empresas e instituições.
Na Igreja, não foi diferente. Revistas e jornais católicos foram forçados a migrar para o mundo digital ou mesmo encerrar suas atividades por completo. Dioceses, paróquias e movimentos estabeleceram suas páginas nas redes sociais, facilitando a divulgação de informações aos fiéis.
Assim, o jornal “A Federação”, que foi durante muitos anos o principal – senão o único – meio de comunicação da Igreja em Itu, precisou encontrar seu novo espaço nesse processo. Em 2019 criou seu portal de notícias e suas páginas nas redes sociais, repercutindo as notícias e reflexões publicadas em sua edição impressa. Desde 2021, realizou parcerias com paróquias, movimentos e comunidades religiosas de Itu, publicando eventos e notícias locais para toda a cidade.
Nos últimos anos, a dinâmica da comunicação digital de “A Federação” ultrapassou a publicação impressa tanto em volume de conteúdo quanto no número de pessoas atingidas, demonstrando que a presença nos meios eletrônicos é necessária e essencial para manter a missão desta obra.
Como um patrimônio da Igreja Católica em Itu, “A Federação” precisa da atenção de toda a comunidade católica da cidade. É preciso pensarmos juntos como manter viva essa tradição que necessita ser atualizada aos desafios do presente e do futuro.
Nossa jornada continua!
Celso Tomba
Educador e comunicador, é colaborador de “A Federação”.
Fez parte da diretoria da Associação São Paulo da Boa Imprensa,
mantenedora do jornal, entre 2022 e 2023.