CF 2025: “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31) – Ver / ouvir

Ver a realidade e identificar nela a presença do pecado ecológico só é possível se a olharmos sob a luz da Palavra de Deus. Essa mesma luz, que ilumina a realidade, ilumina-nos interiormente para agir, mudando atos e atitudes pessoais, comunitários e sociais em vista de uma ecologia integral que garanta a continuidade da vida na Terra, nossa Casa Comum. O jornal “A Federação” está publicando, em quatro edições, o artigo do padre Jean Poul Hansen, secretário executivo de Campanhas na CNBB, um guia para compreender os principais aspectos da CF-2025.
2. Ver o pecado presente na nossa realidade
Para realizar a conversão integral e ecológica desejada, precisamos partir de um ponto: a realidade. O Sínodo para a Amazônia afirma existir um pecado ecológico, isto é, o pecado que consiste no desrespeito ao Criador e sua obra que é a Casa Comum. São ações ou omissões contra Deus, contra o próximo e contra o meio ambiente. É uma cegueira e perda de sensibilidade com o mundo ao nosso redor, tratando as pessoas e os seres vivos como objetos, esvaziando a dimensão transcendente de toda a criação, destruindo de maneira irresponsável a natureza, explorando sem limites os recursos da Terra e deixando para as gerações futuras um planeta fragmentado e insustentável (Documento final do Sínodo para a Amazônia, n. 82) (TB CF-2025, n. 51).
Nossa realidade mais concreta e palpável testemunha a abundante presença do pecado entre nós, também na sua dimensão ecológica. Vivemos uma crise socioambiental que não passa nem perto daquilo que Deus sonhou para sua obra, ao criá-la. Uma crise de muitas faces, envolvendo uma conjunção de fatores históricos, sociais, econômicos e políticos, calcada sobre o modelo de desenvolvimento capitalista, baseado na exploração dos patrimônios naturais, na queima de combustíveis fósseis, como os derivados do petróleo, na expansão desenfreada do consumo e na relação mercantilista com a natureza, [que] tem contribuído para uma série de problemas ambientais, como a degradação do solo, o desmatamento, o extrativismo predatório, a poluição, a escassez de água, o comprometimento da biodiversidade com a extinção de algumas espécies e as mudanças climáticas (TB CF-2025, n. 26).
É preciso um novo olhar sobre o mundo, com os olhos de Deus. Essa é a contribuição específica do cristianismo às sociedades contemporâneas.
Contrariamente a este paradigma tecnocrático, afirmamos que o mundo que nos rodeia não é um objeto de exploração, utilização desenfreada, ambição sem limites. Nem sequer podemos considerar a natureza como uma mera “moldura” onde desenvolvemos a nossa vida e os nossos projetos, porque “estamos incluídos nela, somos parte dela e compenetramo-nos” (LS 903), de tal modo que se contempla “o mundo não como alguém que está fora dele, mas dentro” (LS 934).
(continua na próxima edição)
(artigo publicado na revista Vida Pastoral, mar-abr/2025)
Veja também:
- CF 2025: “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31) – Introdução
- CF 2025: “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31) – Ver / ouvir