CF 2025: “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31) – Introdução

Ver a realidade e identificar nela a presença do pecado ecológico só é possível se a olharmos sob a luz da Palavra de Deus. Essa mesma luz, que ilumina a realidade, ilumina-nos interiormente para agir, mudando atos e atitudes pessoais, comunitários e sociais em vista de uma ecologia integral que garanta a continuidade da vida na Terra, nossa Casa Comum. O jornal “A Federação” publica, a partir desta edição, o artigo do padre Jean Poul Hansen, secretário executivo de Campanhas na CNBB, um guia para compreender os principais aspectos da CF-2025.
1. Introdução
Neste ano em que celebramos os 2.025 anos da encarnação, isto é, do fato inédito de um Deus que assume nossa condição de criaturas, fazendo-se gente como a gente, no ventre da jovem Maria de Nazaré, nascendo entre nós envolto em faixas e deitado num coxo, “entre o boi e o burro” (1Cel 84), “porque não havia lugar para eles no andar dos hóspedes” (Lc 2,7), e submetendo-se assim às contingências da nossa história, a Campanha da Fraternidade (CF) nos convida, mais uma vez, a ver, julgar e agir por uma ecologia integral, com o tema: “Fraternidade e ecologia integral”.
O lema ilumina e dá o tom do olhar e da ação: “Deus viu que tudo era muito bom!” (Gn 1,31).
Entre as diversas motivações apresentadas pela Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração, propositora desta CF junto ao Conselho Episcopal de Pastoral (Consep) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), estão:
- os 800 anos do “Cântico das criaturas”, de São Francisco de Assis, poema do ser humano plenamente reconciliado consigo mesmo – não obstante suas próprias misérias –, com todas as criaturas, desde as visíveis às invisíveis, e com Deus;
- os 10 anos da publicação da Encíclica Laudato Si’, primeira expressão do magistério pontifício dedicada exclusivamente ao tema ecológico, tão caro ao papa Francisco e tão importante para o seu projeto de um novo humanismo integral e solidário, do qual são bases a amizade social (CF-2024), a educação (CF-2022 e Pacto Educativo Global), o diálogo (CF-2021) e a misericórdia ou compaixão (CF-2020). Não podemos nos esquecer da necessidade de “realmar a economia”, proposta da economia de Francisco e Clara;
- a recente publicação da Exortação Apostólica Laudate Deum, na qual o papa Francisco admite que a LS ainda não foi ouvida, recebida e praticada, e talvez não tenhamos mais tempo para fazê-lo. Estamos no decênio decisivo para o planeta! Ou mudamos, convertemo-nos, ou provocaremos, com nossas atitudes individuais e coletivas, um colapso planetário. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso país. E não existe planeta reserva! Só temos este! E, embora ele viva sem nós, nós não vivemos sem ele. Ainda há tempo, mas o tempo é agora! (Texto-base da CF-2025, n. 8).[1]
- a realização da COP 30 no Brasil, em Belém-PA, em novembro de 2025, e a necessária mobilização das Igrejas, como entes da sociedade civil organizada, em vista da sua preparação e realização.
Assim, nosso olhar quer ser, ao mesmo tempo, contemplativo, cheio de louvor e ação de graças, e urgentemente comprometido com a conversão integral, que inclui a conversão ecológica, sem excluir nenhuma outra dimensão dessa realidade tão importante para a Quaresma e para nossa vida cristã, que caracteriza também a CF.
A CF, desde sua origem, é uma proposta concreta de conversão, uma “tentativa de deixar-se transformar pelo Evangelho, que deve modificar os critérios de julgar, os valores que contam, os centros de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade” (cf. Puebla, n. 338; 1239; EN 18-20) (TB CF-2025, n. 1). Conversão que ultrapassa o nível pessoal/individual, chega ao âmbito comunitário/eclesial e transborda numa conversão social, capaz de mudar a vida das pessoas e suas relações, em vista de um mundo mais parecido com o desejado Reino de Deus.
(continua na próxima edição)
(artigo publicado na revista Vida Pastoral, mar-abr/2025)