Sedevacantismo  ontem e hoje
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A palavra é esquisita a quem não está familiarizado, mas significa cadeira vazia. Em primeiro momento é relacionada ao período curto em que não temos papa, entre a morte (ou renúncia) de um e eleição de outro, a chamada “sede vacante”. Porém, após o Concílio Vaticano II, nasceu um movimento de rebeldia e reação às decisões daquele encontro da Igreja, que levou alguns membros do clero – e leigos – a considerarem ilegítima a eleição dos papas depois de Pio XII, cujo pontificado durou de 1939 a 1958.
A justificativa para a oposição reside na interpretação de que, desde João XXIII, os pontífices lideraram um movimento modernista na Igreja, de aceitação de ideias que surgiram no século XIX, rejeitadas por Pio IX e Pio X, e as introduziram na Igreja. Dentre elas, estão a democracia política, o ecumenismo (comunicação entre Igrejas cristãs) e o diálogo inter-religioso com outras denominações. Quem abraça esta interpretação considera que não há salvação eterna fora da Igreja Católica (nulla salus extra Ecclesiam).
O movimento é minúsculo e sem unidade de pensamento ou comportamento, mas tem tomado espaço nas redes digitais, hoje, dada a polêmica envolvendo dois conventos de Clarissas, na Espanha. Em maio, elas se declararam sedevacantistas, seguindo a direção Pablo de Rojas, bispo excomungado, que fora ordenado por dois bispos também excomungados. Depois ele se aproximou da Igreja Palmariana, dissidência católica que vive em cisma, inclusive com outro papa – Pedro III. As Clarissas foram expulsas do Catolicismo por desobediência, conforme o Código de Direito Canônico. Agora a questão envolve um brasileiro, Rodrigo da Silva, que foi ordenado bispo nos Estados Unidos, por um dos cismáticos, e se declarou responsável pelo convento desobediente.
O Prof. Dr. Victor de Almeida Gama (PUC MG), que tem se especializado nos estudos sobre o tradicionalismo na Igreja no Brasil, apontou o Mons. Benigno de Brito Costa (1905 – 1997), antigo pároco em Itu, como o primeiro sedevacantista na história do Brasil. Este padre era baiano, doutor em teologia, que esteve em Itu por sete anos; era homem operoso, fez reformas na Matriz e dedicou-se muito às obras sociais e liderança espiritual. Em 1962 foi convocado teólogo no Concílio Vaticano II, em Roma, porém, voltou de lá com posições radicais, seguindo dois bispos brasileiros tradicionalistas, Dom Geraldo Sigaud, de Diamantina e Dom Antonio de Castro Mayer, de Campos de Goytacazes, única diocese do mundo que não abraçou as reformas da liturgia. Para lá mudou-se o Mons. Benigno. Vinha, anualmente, a Itu visitar o casal Cecília Bispo e Pedro Brunetti. Eu o conheci nessas ocasiões. Celebrava a missa no rito tridentino e fazia grandes críticas ao papa João Paulo II. Interessante que ele recebeu o título de monsenhor, justamente desse papa, e o aceitou…
Atualmente, há jovens que flertam o tradicionalismo, fruto do calor da juventude e da ignorância histórica, e acabam questionando o pontífice, sem saber direito o que é o Magistério da Igreja. É preciso ensiná-los que a cultura religiosa não é estática, mesmo sendo eterna.