Um Externato em Campinas (1)
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Dileto ouvinte! “Cem anos faz que da França aportaram à glebas paulistas as Apóstolas da Esperança” – as Irmãs de São José, trazendo como escudo uma vontade férrea de dilatar o reino de Cristo e espalhar pelos quatro cantos do Estado o bem que lhes inundava a alma. A Missão cresce, torna-se vasto o seu campo de ação. As operárias são poucas para atender a tantos reclamos. A luta é árdua; clima diferente, língua desconhecida, costumes novos; combates dos inimigos da Igreja, que veem com maus olhos a abertura de colégios religiosos; calúnias, incompreensões, humilhações, perda de alunas e Irmãs vitimadas por epidemias, e muitos outros golpes que nada representam, porque no íntimo de cada Missionária arde inextinguível a chama da esperança n’Aquele que tudo pode, n’Aquele que tudo proverá, para que não pereça a obra selada pelo seu amor divino.
São Paulo já ostenta orgulhoso dois colégios e um hospital dirigidos pela Congregação. Cabe agora a vez de Campinas, que não pode passar sem os benefícios já usufruídos por outros núcleos. Grande é o número de suas filhas internadas no Patrocínio, e, portanto, a obra Josefina já é sobejamente conhecida na plagas campineiras. O padre José Joaquim Vieira de há muito traz nos seus planos a fundação de um hospital, e acrescenta aos seus sonhos a fundação de um orfanato e de um educandário para as meninas de sua terra.
Atende-lhe Deus aos desejos. Por disposição testamentária, D. Maria Soares deixa um terreno destinado à construção de um hospital. Para que o seu legado atenda de fato ao destino que lhe quer dar, estabelece que, se no prazo de cinco anos, não fosse iniciada a construção, a terra deveria ser vendida e o produto repartido entre os herdeiros.
Fácil é imaginar o empenho com que o bondoso Vigário põe mãos à obra. O prazo estipulado é exíguo. Faltam-lhe meios para levar avante o grandioso projeto. A Divina Providência porém suscita-lhe valoroso auxiliar na pessoa do Padre Diogo Benedito dos Santos. A 19 de novembro de 1871, com grande júbilo popular, assenta-se a primeira pedra do futuro edifício, que devia ter no centro uma capela e dos lados duas alas, uma destinada aos enfermos e outra ao externato de meninas.
Cooperação da gente campineira não lhe falta. Promovem-se leilões, quermesses, listas de donativos e outros meios de angariar dinheiro para a vultosa obra. Grande benemérito inscreve-se no rol dos que prestigiam a fundação: o Sr. Antonio Francisco Guimarães, que, ao morrer, lega considerável quantia para continuação do prédio. E assim, auxiliado por todos, o Padre Vieira tem a satisfação imensa de contemplar a concretização de seus ideais, com a inauguração, a 15 de agosto de 1876, da Santa Casa e capela, sob invocação de Nossa Senhora da Boa Morte.

27 de julho de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu
da Música – Itu